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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Máquinas Mortais' é conjunto de boas ideias mal desenvolvidas


É difícil entender, num primeiro momento, a essência de Máquinas Mortais, filme que marca a estreia do diretor Christian Rivers em longas e que conta com Peter Jackson como corroteirista e produtor. Afinal, a ideia é abstrata: o mundo entrou em colapso e as cidades passaram a vagar por aí. Isso mesmo: as grandes e principais cidades ganharam rodas para mudar constantemente de lugar e, assim, conseguir sobreviver e conquistar lugares e países mais fracos. É praticamente uma mistura do jogo War com o mundo de Mad Max. Confuso, inicialmente. Mas não se nega: é uma ideia interessante.

Para conduzir essa trama e humanizar as tais cidades-máquinas, o roteiro foca na relação de Hester Shaw (Hera Hilmar), uma fora-da-lei estrangeira, e Tom Natsworthy (Robert Sheehan), um rapaz britânico que, quase sem querer, passa a fazer parte uma intriga internacional. Afinal, Shaw surge do nada em Londres e tenta matar seu principal político, o populesco Thaddeus Valentine (Hugo Weaving). A partir daí, os dois viram os inimigos principais de Londres e passam a ser caçados por todo o planeta por essas bizarras máquinas que carregam cidades inteiras. Desesperador, no mínimo.

O que primeiro impressiona é o excepcional design de produção, comandado por Dan Hennah (da trilogia O Hobbit e de Thor: Ragnarok). Tudo ali parece ser pensado com precisão e com uma boa criatividade. Ainda que algumas coisas em cena lembrem o também pós-apocalíptico Maze Runner, por exemplo, nada fica muito genérico. Aquele universo convence e faz com que o espectador, logo de cara, mergulhe naquela realidade. Isso, de certa maneira, acaba facilitando a entrada em Máquinas Mortais.

Os efeitos especiais não ficaram para trás. Ainda que tenha uma espécie de zumbi-robô mal desenvolvido, o CGI funciona em grande maioria da trama e em pouquíssimos momentos tira o espectador do filme. Com certeza, o investimento da Universal para a criação dos detalhes foi grandioso -- e, pela bilheteria até agora, não deve ter retorno.

No entanto, esses bons pontos são jogados por água abaixo por conta de um aspecto central do filme e que é desenvolvimento de maneia terrível: o roteiro, coescrito por Peter Jackson, Philippa Boyens (O Hobbit) e Fran Walsh (O Senhor dos Anéis), fala sobre muito e, no final, fala sobre nada. Há muitos plots, muitas histórias, muitos personagens misturados. Ao invés de focar na jornada de Hester e Tom, há o tal do zumbi-robô, o vilão de Weaving, a filha do tal político, a justiceira Anna Fang (Jihae) e um punhado de outros seres e personagens que, de tão superficiais, não significam nada pro longa.

Teria sido melhor focar em alguns poucos aspectos e deixar a história, que é tão atraente e pouco usual, se desenvolver aos poucos, sozinha, sem forçar a barra. Não há envolvimento com a maioria dos personagens, que são rasos e com poucos vínculos criados com o espectador -- com exceção, curiosamente, do zumbi-robô Shrike (Stephen Lang), que possui uma história emocionante, humana e inesperada. Ao final do longa, fica até difícil de lembrar dos nomes dos personagens, de tão desinteressantes que são. Menos é mais. Nem tudo demanda a grandiosidade de Senhor dos Anéis.

O elenco também não ajuda muito. Só Hera Hilmar (Um Homem Comum) e Hugo Weaving (V de Vingança) conseguem ir muito além de seus pais, desenvolvendo seus personagens na emoção e interpretação. Robert Sheehan (A Casa do Medo) não vai além de uma cara constante de choro e desesperança. E é difícil entender o que Jihae (da série Mars) está fazendo ali. Ela luta bem, mas não funciona em cena. As sequências impactantes viram grandes momentos bregas, sem sentido. Lucy Liu se sairia melhor.

Faltam, também, planos mais inteligentes e ousados do diretor para ajudar o espectador a entender a lógica geral das cidades-máquinas. Fica difícil entender o tamanho e a imponência delas. Um único plano, logo no começo, resolveria isso.

Assim, Máquinas Mortais é um filme que se perde em suas ambições -- talvez pelo roteiro, talvez pela edição de Jonno Woodford-Robinson (O que Fazemos nas Sombras), talvez pela direção de Rivers. As histórias se amontoam e, no final, não há carinho pelos personagens, não há boas lembranças, não há momentos marcantes, não há um universo forte, representativo. Só salva a boa ideia original, a direção de arte e os efeitos especiais que, juntos, conseguem entreter. Mas memorável, só o desperdício de trama.

 

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