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Amilton Pinheiro *

Com 'Luna', bullying virtual ganha espaço no Festival de Brasília


O cinema brasileiro recente começou a se debruçar sobre a complexidade do convívio social na Era das Redes Sociais. Filmes como Aos Teus Olhos, de Carolina Jabor, e Ferrugem, de Aly Muritiba, o grande vencedor do Festival de Gramado deste ano, mostram de forma perturbadora como estamos vulneráveis ao cyberbullying, principalmente os jovens que nasceram nesse convívio virtual.

Um dos filmes da seleção competitiva, Luna, de Cris Azzi (MG), que passou na segunda-feira, 17, à noite no Cine Brasília, tenta dar conta da complexidade desse rito de passagem, tendo uma adolescente do último ano de conclusão do ensino médio na Grande Belo Horizonte, como foco central. A vida de Luana (Eduarda Fernandes) é modificada a partir do momento que ela conhece a jovem Emília (Ana Clara Ligeiro), que passa a frequentar a sala em que ela estuda. Emília desperta curiosidade e interesse, inclusive sexual, sobre a tímida Luana

O filme começa com o desespero de Luana, que faz um vídeo para mãe pedindo desculpa por tê-la decepcionado. O espectador é levado a concluir que a jovem vai se matar por causa de alguma coisa que vamos saber a partir do momento que o filme faz um recuo no tempo. É no cotidiano de Luana em sua casa, convivendo com a mãe, no colégio, quando conhece Emília, e de suas saídas com a nova colega de classe, que o filme nos mostrará o que levou Luana ao desespero e a suposta tentativa de suicídio.

Diferentemente dos filmes Aos Teus Olhos e Ferrugem, que se concentram no cyberbullying e do estrago que ele fará na vida dos personagens daquelas histórias, Luna trabalha com outros dispositivos. E são esses dispositivos que darão ritmo e atmosfera ao rito de passagem da jovem Luana durante o filme. O cyberbullying e de como ele atuará na vida de Luana é contado próximo do final do longa.

Se num primeiro momento, essa escolha do diretor Azzi fortalece narrativamente o filme, no segundo ela dilui a violência que o cyberbullying tem hoje na vida das pessoas, principalmente das mais vulneráveis, crianças e jovens. O filme não consegue dar conta da complexidade e da violência que aquele bullying virtual tem na vida da personagem Luana, não atingido o mesmo impacto incômodo que se verifica em Aos Teus Olhos e Ferrugem. Mas por outro lado, o espectador ganha com uma história mais coral sobre esse rito de passagem, que fala sobre a descoberta da sexualidade, do amadurecimento, da consciência da identidade, da família e dos amigos.

* O repórter viajou a convite da organização do Festival de Brasilia

 
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