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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: documentário de Sammy Davis Jr. emociona, ainda que episódico


O multiartista Sammy Davis Jr. era um homem de muitas faces e, por isso, virou uma figura extremamente incompreendida da história dos Estados Unidos. Afinal, num momento, ele marchava ao lado de Martin Luther King. Em outro, abraçava Nixon. Depois, ele entrava na onda dos hippies e dos descolados. Mas, ainda assim, permitia piada que fizessem piadas de negros com ele.

Essa pluralidade é o fio condutor do ótimo documentário Sammy Davis, Jr.: Eu Tenho Que Ser Eu, que empresta o título da forte canção I've Gotta Be Me. E o considero ótimo por um motivo: ainda que seja extremamente episódico, quebrando um pouco o ritmo da narrativa, o cineasta Sam Pollard, experiente produtor de documentários, faz uma jogada inteligente e coloca a questão do abraço do Nixon logo no começo. A partir daí, cada "episódio" serve para desmistificar sua figura.

Com isso, rapidamente, Sammy Davis, Jr.: Eu Tenho Que Ser Eu consegue amplificar a imagem do multiartista, mostrando todas suas camadas, particularidades e detalhes. É algo que filmes de ficção, muitas vezes, não conseguem alcançar. No campo dos documentários, são parcos os exemplos, lembrando apenas de Amy, Senna e alguns outros. No próprio É Tudo Verdade 2018, teve uma tentativa de fazer algo parecido com Adoniran Barbosa, mas que não deu certo.

Pollard também tem o trunfo de ter uma figura extremamente carismática e interessante em mãos. Fazendo uso das imagens de arquivo corretas, ele conseguiu mostrar as camadas de Sammy pela voz do próprio norte-americano. Em entrevistas, ele explicitava seu medo de ser esquecido, seu descontentamento com o redor, sua difícil colocação dentro de uma sociedade segregadora.

As entrevistas, ainda que se tornem excessivas em alguns momentos, também impressionam pelo nível de qualidade: há desde uma quantidade infinita de escritores, passando por compositores e chegando até artistas renomados como Whoopi Goldberg, Kim Novak, Quincy Jones, Billy Crystal e, pasmem, o saudoso Jerry Lewis -- que era conhecido por não dar entrevistas de jeito algum.

Nessa mistura de roteiro inteligente que desconstrói a figura de Sammy Davis, passando pelo bom personagem, pelas boas entrevistas e pelas imagens de arquivo históricas, Sammy Davis, Jr.: Eu Tenho Que Ser Eu é um filme que faz a devida honra ao artista completo que o norte-americano foi. É merecedor de grandes premiações? Tenho cá minhas dúvidas. Mas merece ser assistido para resgatar um pouco esse precioso artista de nossas memórias.

* Este filme foi assistido durante a cobertura especial do festival de documentários É Tudo Verdade 2018.

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