Sempre houve uma percepção de que Clint Eastwood era um conservador exagerado, muito por conta de seus papéis de homens durões em faroestes e filmes policiais. No entanto, ao notar sua assinatura como diretor, percebe-se que o nonagenário aposta em temas progressistas e de importância social, como suicídio assistido, xenofobia, mercado de trabalho e, agora, injustiças.
Em O Caso Richard Jewell, longa-metragem que chega aos cinemas brasileiros agora em janeiro, Eastwood conta a história real de Richard Jewell (Paul Walter Hauser), um segurança apaixonado por seu trabalho. Sua vida muda de rumo, porém, quando ele descobre uma bomba durante um show, que explode e mata algumas pessoas. É a deixa para ser herói nacional.
No entanto, ao contrário do que se espera, Jewell se torna o principal suspeito na investigação do FBI, comandada por Tom Shaw (Jon Hamm). Do nada, então, ele vê sua imagem ganhar contornos negativos. Junto, ainda por cima, ele arrasta a mãe idosa (Kathy Bates) e o advogado (Sam Rockwell) para um pandemônio de desinformação, caos e interesses escusos.
E para contar essa história, Eastwood jamais se vale de subterfúgios que coloquem a inocência de Jewell em prova -- e aqui está a maior qualidade de O Caso Richard Jewell. Desde a primeira cena, o cineasta norte-americano deixa claro que o segurança-policial é um homem simples, com excesso de zelo por sua profissão, e que quer fazer o melhor para as pessoas ao seu redor.
Ao lado da boa abordagem de Eastwood, ainda por cima, encontra-se uma atuação de gala de Paul Walter Hauser (Eu, Tonya), um ator que mostra cada vez mais capacidade e potência em tela. Sua construção de personagem é cuidadosa, delicada, bem pensada. Há reverência à figura de Jewell e, principalmente, ao transtorno que aquele homem passou ao longo de três meses.
Além de Hauser, Kathy Bates (Misery), Jon Hamm (Baby Driver) e Sam Rockwell (Três Anúncios para um Crime) também ajudam a compôr um bom quadro de atores empenhados. Destes, Bates e Rockwell teriam francas chances de concorrer ao Oscar, ainda que seja difícil qualquer um dos dois ganhar. Afinal, Laura Dern vem com força e Rockwell já ganhou no ano passado.
Do elenco, só Olivia Wilde (Tron: O Legado), coitada, não é aproveitada pela trama. Sua personagem é quadrada, óbvia e desinteressante. Além disso, os únicos momentos bons em tela, acabam fazendo com que a personagem caia em interpretações histriônicas. Uma pena que Clint Eastwood tenha retratada a jornalista que relatou o caso todo dessa forma tão banal.
De resto, pode-se dizer que O Caso Richard Jewell é bem contado, interessante e possui momentos que saltam aos olhos e dão ritmo à narrativa -- lembrando mais A Mula do que 15:17 - Trem para Paris, em comparação com filmes recentes de Clint. Poderia ser mais enxuto e um pouco mais honesto com a personagem de Wilde. Mas, ainda assim, funciona e emociona.
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