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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Alaska' é bom 'road movie' no cerrado goiano


Que boa produção é Alaska, road movie que chega aos cinemas brasileiros nesta terça-feira, 21, pelo Projeta às Sete da Cinemark. Fazendo sua estreia na direção de longas de ficção, o goiano Pedro Novaes (Cartas do Kuluene) surpreende com um filme sensível sobre um casal em ruínas e que tenta se reconstruir anos após a separação. Para isso, Ana (Bella Carrijo) e Fernando (Rafael Sieg) fazem uma viagem à Chapada dos Veadeiros e, no meio de conversas, pausas e silêncios, tentam se reencontrar internamente.

O filme já é um bom agrado por conta do cenário. É difícil ver produções que saem do eixo Rio-São Paulo chegando aos cinemas -- mérito desse bom projeto da Cinemark, feito em parceria com a distribuidora Elo Company, e que ajuda a diversificar o que há nas salas de cinema. É bom ver algo se passando no cerrado brasileiro, e no estado de Goiás, que não sejam documentários rígidos ou tramas sertanejas. É um drama, banhado na tentativa de um romance, que funciona muito bem na mistura do cerrado.

Indo além disso, Novaes acerta em cheio com o elenco e a forma que conduz a trama. Além de Bella Carrijo (Bem Casados) e Rafael Sieg (A Última Estrada da Praia) funcionam em cena e convencem -- tanto quando vivem romances sórdidos, quanto nas cenas de briga e desentendimento. O desconforto dos dois está ali e é extremamente palatável para quem está do outro lado da tela. Em certos momentos, parece que o espectador forma um triângulo amoroso com o casal principal. É sofrimento visceral.

O subgênero de road movie, aqui, mantém a essência de ser um filme que transforma seus personagens do começo para o fim. Mas, ainda assim, Alaska rompe barreiras narrativas. As descobertas aqui nem sempre são boas. O ponto de início é melhor do que o que é descortinado. O avanço da estrada, para Ana e Fernando, é o retrocesso de um sonho antigo que renasceu e que, de vez em quando, parece ganhar forma de novo.

Destaque também para a deliciosa trilha sonora, que recai numa viola que poderia soar óbvia por conta do cenário, mas que vai além; e para a belíssima fotografia. O título também é excelente e mostra como houve um exercício criativo ao redor do que estava sendo contado. Mais do que fazer parte de um itinerário imaginário do casal, o estado americano do Alaska representa todo o gelo que existe entre os dois e que move a trama nessa direção tão desconfortável. No bom sentido dessa expressão, é claro.

Há alguns probleminhas, porém, que acabam por prejudicar Alaska. O primeiro é que, por mais que tenha apenas 72 minutos de duração, alguns momentos são arrastados demais. Parece que o diretor forçou para que a cena fosse mais introspectiva do que era de fato. Não adianta: é preciso ter uma combinação perfeita de fotografia, trilha sonora, interpretações, direção e roteiro para que uma cena silenciosa e repleto de simbolismos sirva como algo reflexivo e não chato, pedante. Isso acontece aqui em certos instantes.

Por fim, pode-se dizer que o filme não tem muito mais a dizer do que esse fim de relacionamento. Claro: isso, por si só, já traz uma força descomunal para a narrativa. Mas, em alguns momentos, parece que falta uma subtrama aqui ou ali -- como, por exemplo, o desenvolvimento de uma desconfortável cena inicial ou, ainda, breves investigações e flashbacks sobre o passado desse casal. Claramente não era objetivo de Novaes, mas ele poderia ter feito algumas exceções para tornar o filme mais palatável.

Alaska, ainda assim, é uma boa surpresa. Vindo de uma região que pouco consegue distribuir seus filmes nos grades centros, o longa-metragem faz com que o espectador se delicie nas suas paisagens, se perca nos silêncios e sofra, calado, com duas pessoas que já se amaram e que se deparam com o fim definitivo de suas emoções um com o outro. É triste, é poético, é um bom exemplo de cinema nacional bem feito. Sem dúvida, vale o ingresso para aquele que quer saborear e sofrer com uma boa trama de amor.

 

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