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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Babenco' é documentário forte e sensível


É incrível o que Bárbara Paz fez em Babenco - Alguém tem que ouvir o coração e dizer: parou. Pessoal, sensível e impactante, o documentário acompanha a jornada do cineasta Hector Babenco em seu leito de morte. Alguma doença, não identificada no longa-metragem, avança. O corrói. E Bárbara Paz, fazendo sua estreia em documentários de longa duração, emociona. Mostra que, mais do que uma boa atriz, é uma ótima cineasta.

Lembrando o estilo pessoal de Petra Costa (Elena, Olmo e a Gaivota), Babenco se infiltra na vida do personagem-título de um modo quase voyuerístico. Num relato que mescla registros pessoais, breves depoimentos do diretor e colagens de cenas de outros filmes, o documentário se constrói, ergue pilares rígidos para emocionar e mostrar como é essa pessoa em escrutínio. E sem nunca apelar pra emoção barata e entrevistas falsas.

Dessa maneira, Babenco é um filme excessivamente verdadeiro. A emoção transborda em sua lindíssima fotografia em preto-e-branco, que faz sentido conforme a trama avança. Uma narração que surge aqui e acolá, por vezes, pesa demais -- a imagem fala por si só na maioria das sequências. Mas nada que tire o brilho natural do longa-metragem, emotivo e sentimental por natureza. Difícil não se encantar com o filme.

O ponto alto, porém, é o roteiro -- algo que, geralmente, passa batido nos documentários. Construído em cima de memórias e sentimentos de Bárbara Paz, o filme tem um tom confidencial, e às vezes fabular, que vai engrandecendo o significado de cenas, falas, depoimentos. É linda a forma como Paz costura os acontecimentos, suas memórias e o luto precoce, que já surge quando Babenco percebe que não poderá viver.

Cinéfilos também vão encontrar aqui um conforto, um acolchoado frente tantas barbaridades que acometem a arte brasileira. Babenco, por mais que sempre tenha tido uma personalidade explosiva, se desnuda como alguém surpreendentemente humano. É um gênio, sim, que comandou filmes clássicos como Carandiru e O Beijo da Mulher Aranha. Mas, mais do que isso, amou e foi amado. E usou o cinema como seu remédio.

O final, apoteótico e marcante, é uma aula de cinema. Mostra como o documentário, gênero sempre tão preso em amarras e mesmices, pode se libertara com criatividade e ousadia. Bárbara Paz vai longe e consegue fazer algo que Babenco pediu ao concluir seu último filme, o mediano Meu Amigo Hindu -- “eu já vivi minha morte, agora só falta fazer um filme sobre ela”. Bárbara Paz o fez. E o fez brilhantemente. Que grande filme!

(*) Filme assistido durante a cobertura da 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

 

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