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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: ‘Mudbound’ é relato frio e cruel sobre racismo nos EUA


Já disse e repito: a Netflix não consegue acertar o tom de seus filmes. Grandes produções, como Okja e Meyerowitz, são ótimos filmes, mas não chegam a ficar marcados na memória de seus espectadores de maneira indelével. Há também filmes péssimos e risíveis, como os recentes Fica Comigo e Little Evil. Agora, porém, chega à plataforma de streaming a grande aposta da empresa desde Beasts of No Nation: o cruel, brutal e muito real Mundbound, de Dee Rees.

A história é parecida com Mississipi em Chamas, clássico de 1988 com um jovem Willem Dafoe e Gene Hackman no seu auge. Aqui, acompanhamos duas famílias. Uma é branca, dona de uma fazenda, e que, sem grandes privilégios, resolve dar várias demonstrações de grandeza frente aos negros. A outra, enquanto isso, é negra e trabalha na fazenda desta outra e acaba sofrendo com o absurdo sistema de apartheid instaurado no País logo após a Segunda Guerra.

Assim, Mudbound já acerta ao causar emoções no espectador. Com um ritmo muito lento e contemplativo, o filme de Rees introduz os seus espectadores aos poucos na vida dos personagens. Vamos compreendendo o sistema daquela sociedade para que, enfim, um sentimento forte se abate sobre a audiência. Se você tiver qualquer noção de justiça, vai ter vontade de levantar, entrar dentro da produção e parar com algumas das coisas que estão acontecendo.

Esse sentimento é potencializado ainda pelas atuações impecáveis de grande parte de seu elenco. Carey Mulligan (As Sufragistas), Garrett Hedlund (Peter Pan), Jason Clarke (Planeta dos Macacos: Confronto), Jason Mitchell (Detroit em Rebelião), Jonathan Banks (Breaking Bad) e o incrível Rob Morgan (Stranger Things) formam uma coesão interpretativa que não vejo há um bom tempo nos cinemas. Se o Oscar tivesse um prêmio de elenco, já seria de Mudbound.

Além disso, Dee Rees (do ótimo Pariah) é uma cineasta que sabe inserir os momentos de tensão. O filme está perdendo sua força narrativa e ela, elegantemente, insere uma cena ou provocação que mexe com a audiência. Há também um entrelaçamento de destinos entre os personagens de Garrett Hedlund e Jason Mitchell que dá um tom ainda mais completo e interessante à história que se desdobra nas telas. Difícil desgrudar os olhos da tela, mesmo com o ritmo lento.

O único grande erro do filme, que pode colocar em risco sua participação em competições e me faz tirar uma boa nota dele, é o roteiro de Dee Rees e Virgil Williams que se perde no final. Ainda não entendi se quiseram construir um final aberto ou mostrar que a audiência viu só um trecho da vida deles. Mas não surtiu o efeito desejado: a conclusão é confusa e fica cheia de pontas soltas. Alguns acontecimentos importantes também não causam efeito. É frustrante.

Ainda assim, Mudbound é uma grande recuperação da Netflix no segmento de longas e, sem dúvidas, deve ser lembrado na temporada de premiações -- ainda que o Globo de Ouro tenha esnobado a produção. Pena, porém, que tem um final confuso e sem propósito. Se não fosse por isso, o filme de Dee Rees poderia ser o primeiro longa de streaming a ganhar o Oscar e, ainda, teria uma grande torcida por trás -- inclusive a minha. Mas, ainda assim, vale assistir.

ÓTIMO

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