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  • Bárbara Zago e Matheus Mans

Crítica: Nova temporada de '13 Reasons Why' eclode essência da série


A nova temporada da polêmica série 13 Reasons Why chegou rodeada de um público dividido. Muitos não concordaram com a abordagem que a produção da Netflix deu ao suicídio de Hannah Baker (Katherine Langford) na primeira temporada, afirmando que a cena é gráfica demais e pode causar gatilhos. O outro lado diz que é preciso falar sobre o tema e que escondê-lo só faz com que as pessoas tenham mais medo de tocar no assunto.

Poucos imaginavam, então, que a continuação das histórias sobre a Liberty School traria ainda mais polêmicas à produção e que chutaria o balde com relação às temáticas mais sensíveis da vida adolescente, como assédio e abuso sexual, bullying e violência escolar. O que não é dito em outras produções, aqui, é gritado. O que não é mostrado, é escancarado. O problema, porém, é que isso acontece a exaustão e de maneira abusiva.

Mas, como sempre, vamos por partes. Primeiro quanto à necessidade da trama: em essência, não era preciso continuar a história. A primeira temporada é inteiramente focada em Hannah, que tem arco bem definido com começo, meio e fim. Prolongar qualquer coisa relacionado à personagem é, essencialmente, desnecessário. O que poderia ter sido feito aqui é um foco em outro personagem, em outra escola, em outro período de tempo.

A produção da série, no entanto, vai pro caminho mais tortuoso e decide gastar quase 13 horas de produção audiovisual -- sim, são 13 episódios de 1 hora cada -- para falar de como amigos, familiares e corpo docente reagiu à morte da personagem. No lugar da narração das fitas, o espectador é submetido à depoimentos no tribunal sobre a morte de Hannah. É chatíssimo pois são histórias que se repetem e às vezes são verdadeiras, ás vezes são mentiras projetadas.

Outro grave problema que nasce da falta de necessidade de uma segunda temporada sobre o mesmo assunto é o que fazer com a figura de Hannah Baker. Afinal, todo peso dramático foi depositado em Katherine Langford na primeira temporada. O que fazer sem ela? Simples: 13 Reasons Why resolve colocar um fantasma de Hannah conversando com Clay (Dylan Minnette) sobre a vida, o universo e tudo mais. Tosco e trava a história.

E com essa narrativa lenta, cheia de recursos artificiais e essencialmente desnecessária, também nasce um outro problema: personagens antes queridos se tornam verdadeiros chatos. Clay fica insuportável e com dezenas de decisões sem sentido, Hannah é um fantasma que dá sono, Alex é perdido, Bryce perde qualquer tipo de camada, Zach ganha um arco surreal, Justin fica apático. Só Jéssica e Tyler que ganham força.

Por fim, há o grande problema que faz toda a série eclodir. A primeira temporada caiu na graça de alguns, justamente, por alertar contra o suicídio e mostrar como isso pode ser algo silencioso. Só que a Netflix, de maneira barata e interesseira, volta a explorar dramas humanos como se fosse um produto comercial. Há uma cena final envolvendo Tyler que revira o estômago e não faz muito sentido dentro da história naquele momento. Parece que está ali pra chocar, para ser o suicídio da vez nessa fraca e chata temporada.

Além disso, a conclusão de uma investigação sobre abusos sexuais é absurda. Sim, alguns podem alegar que o que acontece é a realidade, que nem tudo acaba bem. Mas pense comigo: se uma vítima de abuso está tomando coragem de denunciar alguém e resolve assistir essa série, a coisa muda de figura num estalar de dedos. É um desserviço -- ainda mais depois que o autor do livro que inspirou a série foi acusado de abuso sexual.

A segunda temporada de 13 Reasons Why é errada em todos os sentidos. Usa momentos cruéis para chocar e faturar em cima, tem recursos narrativos bregas, é cansativa, chata, anda em círculos, transforma personagens em verdadeiros chatos. E pior: ao final, ainda faz um desserviço social. E não adianta falar que tem aviso antes de cada episódio -- e que, estranhamente, fala para conversar com pais e amigos, mas não com psicólogos. A Netflix errou feio com uma série que não promove nada ao seu público alvo. Só desencontros e desconforto.

 
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