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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Quando as Luzes das Marquises se Apagam' é filme burocrático


Muitas vezes, ao idealizar um documentário, seus realizadores esquecem que este tipo de produção, ainda que tenha grande influência jornalística, é um filme. E, sendo assim, precisa ter a linguagem do cinema, criando arcos narrativos, desenvolvendo tramas e por aí vai. O documentário Quando as Luzes das Marquises se Apagam, porém, é o claro exemplo de um longa que não seguiu essa receita.

A ideia de seu realizador, o jovem e estreante Renato Brandão, é louvável: contar a história da cinelândia paulistana -- o conjunto de cinemas no centro da cidade de São Paulo que surgiu entre as décadas de 1930 e 1950. Dentre eles, o cineasta destaca o Marabá, o Metro, o Ipiranga, o breguíssimo Marroco, o divertido Cinespacial, o Jussara, o Art Palácio e por aí vai.

No entanto, o cineasta, que usou do financiamento coletivo para viabilizar a produção, conseguiu tornar o filme extremamente burocrático e maçante, mesmo tendo uma história tão bonita em mãos. A sensação que fica, durante a projeção, é que está sendo exibida uma grande linha do tempo audiovisual com acontecimentos sucessivos sem grande costura narrativa.

O roteiro é apenas uma pesquisa -- muito boa, isso não pode ser negado -- que detalha as datas de abertura e fechamento dos principais cinemas com o número de ingressos vendidos em cada ano. Tudo isso salpicado de um quantidade absurda de letreiros explicativos, fotos de arquivo e entrevistas que se repetem demasiadamente. Ignácio de Loyola Brandão e Máximo Barro, coitados, não apareciam tanto assim nem em seus próprios documentários

As questões técnicas também são capengas. Ainda que a trilha sonora original seja muito boa, o resto não funciona muito bem. Alguns áudios são realmente ruins, como o de Loyola Brandão, e outros entrevistas são gravados na rua, mas sem nenhuma razão de ser -- Nabil Bonduki, por exemplo, poderia ter sido muito mais aproveitado numa gravação dinâmica na Praça da República.

Além disso, Brandão tenta inserir algumas lições ao final do filme que não colam. O melhor teria sido optar por uma desconstrução -- coisa que o cineasta só ameaça fazer, mas não vai à frente.

E a fotografia do filme é sem personalidade: começa em preto-e-branco, como nos filmes de antigamente, e adquire cor quando começam a falar dos novos cinemas. Não seria mais interessante fazer algo ao contrário? Deixar as imagens de hoje em preto-e-branco e, quando falassem do passado, colocariam filtros de cores em alguns momentos pra deixar mais glorioso, como a Era de Ouro?

Enfim, Quando as Luzes das Marquises se Apagam é um filme de potencial desperdiçado. Não vai pra frente e não consegue deixar o material que tem em mãos interessante. Qualquer coisa, no final, seria melhor do que essa grande linha do tempo audiovisual que o filme se tornou. Merece duas "esquinas" apenas por conta da pesquisa, de uma ou outra entrevista e da trilha. Senão...

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