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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Um Dia de Chuva em Nova York' é mais do mesmo de Woody Allen


O casal Gatsby (Timothée Chalamet) e Ashleigh (Elle Fanning) decide passar um final de semana em Nova York. Estudantes, eles fazem a viagem para entrevistar o famoso diretor de cinema Roland Pollard (Liev Schreiber) ao mesmo tempo que aproveitam as maravilhas da cidade. No entanto, os planos acabam frustrados quando a jovem entra no mundo do cinema e o rapaz, triste, revê Chan (Selena Gomez), irmã da ex-namorada.

Esta é a trama de Um Dia de Chuva em Nova York, novo e problemático longa-metragem do cineasta Woody Allen. Problemático, afinal, pois o diretor voltou a ser acusado pela ex-esposa e pela filha de abuso sexual -- acusações que ele refuta e que foi inocentado pela Justiça na década de 1990. No entanto, isso não foi o bastante para evitar que a Amazon, produtora e distribuidora, engavetasse o longa, que só chega agora ao cinema.

Uma pena, porém, que Allen esteja parecendo um disco riscado desde 2015. Afinal, após a boa fase com Meia-Noite em Paris, Para Roma com Amor, Blue Jasmine e Magia ao Luar, o cineasta voltou a falar de traição, romances com homens mais velhos e triângulos amoroso como se uma obsessão. São temas presentes em seus últimos três filmes, sem contar este novo: O Homem Irracional, Café Society e Roda Gigante.

Tudo bem que Allen, de alguma forma, sempre flertou com a temática -- Manhattan, seu filme mais belo, é uma grande trama sobre traição e relacionamento com homens mais velhos. O problema é que isso está se repetindo e de uma forma que não ousa na embalagem. Parece que é sempre o mesmo filme, com a diferença de ter personagens e ambientações diferentes. Um Dia de Chuva em Nova York parece um déjà-vu completo.

Além disso, dá para se incomodar em ver o tema "relacionamento" surgir no cinema pelas mãos do cineasta com tal acusação nas costas. Seria bom ver outra seara.

E enquanto Roda Gigante tinha Kate Winslet, Café Society tinha Steve Carell e O Homem Irracional tinha Joaquin Phoenix e Emma Stone, Um Dia de Chuva em Nova York tem um trio de protagonistas jovens e pouco experientes. Chalamet se saiu muito bem em Me Chame Pelo Seu Nome, mas nunca mais fez outro grande papel. E aqui fica evidente. Ele encarna um mini-Allen que é forçado e pouquíssimo natural. Não dá para engolir.

Quem segura as pontas, de certa forma, é Fanning (Malévola) e Gomez (Os Mortos Não Morrem). A primeira faz uma personagem um tanto quanto insuportável -- é ingênua demais, quase irreal. E se não fosse a fofura natural da atriz, poderia ter se perdido. Já Gomez é a surpresa daqui. Está naturalmente engraçada e consegue conquistar não só Chalamet, como o espectador. Serve no papel e tem um desempenho que surpreende.

Jude Law (Closer), Rebecca Hall (Atração Perigosa), Liev Schreiber (Spotlight) e Diego Luna (Rogue One) estão apagados em papéis menores e bastante esquecíveis.

Mas vale ressaltar, também, a continuação da bem sucedida entre Allen e seu diretor de fotografia Vittorio Storaro (Apocalýpse Now). Ele sabe, como poucos, modular a luz de forma natural, elegante e impactante. Um momento em especial, no qual os personagens de Chalamet e Gomez estão se reencontrando, é magnífico -- a forma como Storaro transforma a luz do crepúsculo em chuva é lindo de se ver na telona.

Mas de resto, é isso. É um filme bonito, que tem algumas boas sacadas e tem um interessante apanhado de referências culturais -- o que mais faz isso, aliás, desde Meia-Noite em Paris. Mas os pontos positivos não conseguem se sobrepôr ao sentimento de que Allen está preso num vórtex de mesmice. Se ele não mudar a temática, é preciso pelo menos mudar a forma como ela contada. Senão, fica difícil aprovar seu trabalho.

 

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