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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Uma Viagem Inesperada' é bom drama sobre relações familiares


O argentino Pablo (Pablo Rago) tem a vida que pediu a Deus. Tem um belíssimo escritório no Rio de Janeiro, com vista para o Pão de Açúcar, e namora uma mulher linda e apaixonada (Débora Nascimento). No entanto, ele é pego de surpresa quando a ex-mulher entra em contato e avisa que o filho Andrés (Tomás Wicz) está tendo problemas na escola em Buenos Aires. E é neste momento que ele precisa fazer a tal viagem do título, levando o rapaz para sua cidade de origem e tentando recriar os laços perdidos.

Dirigido pelo experiente Juan José Jusid (Bajo Bandera), Uma Viagem Inesperada é a quebra muito bem-vinda de um jejum de oito anos do cineasta. Afinal, o longa-metragem possui um ar leve, sensível e reflexivo, mas sem pesar muito no drama ou no choro. É uma espécie de drama familiar ao estilo Sessão da Tarde que faz bem por trazer uma história sem exagerar, como tanto se tem visto por aí. É, em suma, um filme leve para passar o tempo, pensar na vida e na família e embarcar na história contada.

Para isso dar certo, Uma Viagem Inesperada aposta em alguns pilares que funcionam. O primeiro é a trama em si, escrita por César Gómez Copello, Oliver Kolker e pelo próprio Jusid. Inicialmente, o filme se apresenta como um típico road movie, onde pai e filho irão sair por aí de carro para tentar reencontrar as origens -- até de maneira literal, voltando à cidade onde o patriarca nasceu. No entanto, é mais do que isso. O diretor rapidamente coloca a dupla no tal lugar e passa a focar nas relações.​

O foco, aqui, não está na viagem, nas ações, na marcha dos acontecimento. Está na redescoberta de si. São emocionantes as cenas em que pai e filho contam histórias um para o outro sobre o que passaram na vida -- uma delas, em específico, envolvendo o pai, deve fazer muita gente chorar na sala de cinema. É um estilo de filmagem naturalista, calmo, coeso. As coisas não acontecem com pressa, mas também não andam de maneira vagarosa. Tudo fluí bem e muitos devem se conectar com a trama.

Nesse sentido, Uma Viagem Inesperada acaba se aproximando mais da carga emocional e sentimental de produções como Peixe Grande, Sobre Pais e Filhos, Os Descendentes. Tramas sobre pais e filhos que optam pelo introspectivo e reflexivo.

Outro aspecto que eleva a qualidade do filme é o bom elenco. Ainda que Débora Nascimento continue péssima, com frases artificiais, Pablo Rago (O Segredo dos Seus Olhos) segura as pontas, mesmo quando precisa falar em um português quase ininteligível. Ele também compensa nas cenas em que o inexperiente Tomás Wicz não consegue segurar sozinho. É gostoso ver seu personagem se desenvolvendo, se revelando, mostrando todas suas facetas e complexidade. É um ótimo ator, de fato.

Pena que o longa-metragem fique na beirada do desenvolvimento em vários assuntos. Em determinado momento, o filho acaba tendo um problema e indo parar no hospital. Parece que pouco sai dali. O mesmo vale para um acontecimento simultâneo envolvendo o pai. Parece que o diretor e os roteiristas estavam mais ocupados pesando no desenvolvimento das relações afetivas do que no desenvolvimento dos personagens em si. Aí não adianta: incomoda e o espectador, sem dúvida, vai sentir falta de algo ali.

Mas, ainda assim, Uma Viagem Inesperada é uma grata surpresa. Simples, leve e reflexivo, traz um tipo de cinema que anda em baixa por aqui -- que valoriza as relações humanas acima de reviravoltas exageradas, situações absurdas e efeitos especiais que explodem na tela. É um filme sobre a vida de verdade, sem maquiagem ou exageros. Difícil não se enxergar em um ou outro momento da jornada de descoberta de pai e filho. É um jeito fácil, e bem honesto, de se emocionar livremente nos cinemas.

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