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  • Matheus Mans e Bárbara Zago

Crítica: 'Vidro' é filme polêmico com erros e acertos


O longa-metragem Corpo Fechado, de 2000, é impressionante. Afinal, o cineasta M. Night Shyamalan conseguiu trazer as tramas de heróis dos quadrinhos para um cenário realista, próximo de qualquer pessoa no mundo. A história parecia morta até que, dezesseis anos depois, o diretor reaproveitou a trama em Fragmentado, usando-a como uma espécie de plot twist no filme estrelado por James McAvoy. E, agora, Shyamalan finalmente lança o encerramento dessa trilogia com Vidro, produção que junta McAvoy, Bruce Willis, Samuel L. Jackson e uma trama de heróis adormecida e muita polêmica.

O novo filme começa com a Horda (McAvoy) sendo contida, em sua forma de Besta, por David Dunn (Bruce Willis) e finalmente capturada pela psiquiatra Ellie Staple (Sarah Paulson). Ela, especialista em pessoas que se consideram heróis, reúne os dois numa espécie de hospício, onde também está preso o inteligente e manipulador Mr. Glass ( L. Jackson). É ali, então, que as histórias dos três personagens começam a se cruzar e Shyamalan, que também é roteirista, inicia o seu desejado encerramento da trama realista de HQs. Segredos são revelados, embates são travados, mortes acontecem.

Shyamalan não seria Shyamalan se não fosse polêmico e repleto de opiniões divididas quanto ao seu trabalho. Ainda que O Sexto Sentido e Sinais sejam relativamente unânimes quanto ao trabalho de roteiro e direção, há muitos filmes em sua filmografia que são amados por alguns e odiados por outros. Corpo Fechado e Fragmentado são exemplos. A Vila, Fim dos Tempos e A Visita são outras produções do diretor que não conseguiu agradar todos. Em Vidro não é diferente. Ele abandona a psicologia, vista em abundância em Fragmentado, para focar unicamente numa forte história de quadrinhos.

Durante todos os 130 minutos do longa-metragem, Shyamalan foca em transpor o enredo de uma HQ para o filme. Os que esperam a realidade psiquiatra vista no mais recente da trilogia, Fragmentado, vai se decepcionar. Aqui, a realidade dos personagens é deixada de lado para ter, em tela, verdadeiros personagens fictícios dos quadrinhos. O que mais carrega esse fardo é McAvoy (X-Men: Primeira Classe), que carrega uma interpretação surpreendente. É bizarro como ele consegue transitar entre feições de maneira tão rápida. Willis e L. Jackson, infelizmente, não são tão aproveitados. Parece que Shyamalan esqueceu de como desenvolver a história dos dois, feita 18 anos atrás.

E não foi falta de tempo para desenvolvê-los: numa estratégia de roteiro pouquíssimo esperta, o cineasta opta por dar muita importância para Joseph Dunn (Spencer Treat Clark), filho de David; Mrs. Price (Charlayne Woodard), mãe de Mr. Glass; e Casey Cooke (Anya Taylor-Joy), uma das vítimas da Horda. É difícil entender o porquê dessas personagens terem ganho tanto destaque -- principalmente Casey, que parece virar uma outra pessoa neste filme. Lembra do caso Eloá, quando a amiga da sequestrada volta pra casa? É a mesma coisa aqui. É uma Síndrome de Estocolmo muito bizarra.

A polêmica chega à cavalo, porém, no último ato. Ali, o diretor toma uma série de decisões que dividem o público. Parte vai amar, parte vai odiar. Difícil ficar num meio-termo, difícil dizer o que o cineasta deveria ter feito. Ele tomou uma direção, totalmente voltada para as HQs, que rompe com muita coisa que foi criada e conquistada nos outros dois longas. É corajoso, mas muitos podem achar inverosímel, anticlimático, sem graça. O fato é que muita gente -- inclusive este que vos escreve -- vibrou com a conclusão. Há uma certa genialidade ali. Mas há muita decisão polêmica, questionável.

O próprio desfecho da personagem de Sarah Paulson (American Horror Story), que parecia totalmente inútil e inofensiva, ganha contornos grandiosos. Mas a metáfora por trás de toda história é interessantíssima. Basta ver o filme de forma fria, afastada.

Assim, Vidro é um filme que deve agradar mais aos fãs de Corpo Fechado do que de Fragmentado, ainda que McAvoy seja o grande protagonista. A psicologia, vista com fundamental no último filme, some dali e até ganha aspectos vilanescos. Mas Shyamalan fala o que queria falar, conta a história que deveria estar engasgada há anos. E a mensagem existe, é forte, interessante, inteligente. Não deve agradar todos, como é do feitio do cinema deste diretor, mas está longe de ser um retorno ao período obscuro quando ele comandou bombas como Depois da Terra e O Último Mestre do Ar. É cinema e, como todo bom filme, balança as emoções do público -- pro bem e pro mal.

 
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