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  • Foto do escritorMatheus Mans

Ed Motta reafirma 'internacionalização' em 'Criterion of the Senses'


Em 2015, o cantor Ed Motta virou alvo de uma polêmica. Em um post no Facebook para divulgar uma turnê na Europa, o cantor de Fora da Lei e Colombina disse que não cantaria em português em seus shows e pediu para que não gritassem "canta Manuel", um de seus sucessos, ou pedissem que ele falasse em português. Apesar do impacto negativo em sua carreira no Brasil, Ed não se abalou. Disse ao Estadão que não mudava uma vírgula do que tinha dito. E seu novo álbum, Criterion of the Senses, confirma isso.

Lançado no final de setembro, seu novo disco é o terceiro a ser cantado inteiramente em inglês -- os outros dois foram os ótimos Chapter 9 e Perpetual Gateways, além do AOR, que teve versões em duas línguas. O novo disco é o passo definitivo e corajoso de Ed, que decidiu fazer algo raro no Brasil: admitir que sua música não tem espaço competitivo com sertanejo pop e funk, por exemplo, e que seu público de verdade está no exterior. Mais especificamente na Europa, onde Ed faz uma cruzada há alguns anos.

O resultado são oito faixas do mais puro e acústico soul. Compostas, interpretadas e produzidas por Ed, as canções mostram o claro avanço rítmico e harmonioso do cantor, que deixou o suingue de Manuel de lado e passou a adotar uma postura mais voltada ao jazz, sem esquecer de continuar trabalhando sua voz. Há um mar de referências que podem ser encontradas em seu novo trabalho, mas é visível também uma personalidade cada vez mais presente em cada composição, acorde ou nota tocadas.

A musicalidade de Stevie Wonder, por exemplo, se manifesta claramente na ótima Sweetest Berry, que também conta com os seus melhores arranjos vocais. Além disso, é visível que Ed conseguiu alcançar algo que sempre buscou: a valorização da música sobre o texto. Afinal, ainda que tenha criado refrões marcantes -- "Manuel foi pro céu" ou "já dirigi automóveis, já consegui capital" --, Motta sempre colocou a harmonia à frente. Se isso não acontecia, era culpa da gravadora. Agora, a liberdade toma suas composições.

Há um refinamento na produção, que acentua a marcação dos instrumentos, que causa um verdadeiro orgasmo mental em quem gosta de encontrar boas gravações, com acústica bem planejada -- adores de vinis, se preparem antes de escutar o novo álbum de Ed. É um trabalho raro, meticuloso e que mostra como o músico acertou em suas escolhas.

Your Satisfaction is Mine, ainda que tenha um ar pop e dançante que Ed não deve admitir, é um ponto fora da curva. X1 in Test, por exemplo, conta com uma pegada de jazz que predomina toda a canção, tornando o ritmo ainda mais marcante do que Ed está cantando. O solo de guitarra, pouco usual em sua "carreira brasileira", também confirma esse distanciamento do Ed Motta produzido pelas gravadoras e uma aproximação cada vez maior do que o sobrinho de Tim Maia sempre quis e buscou.

As duas faixas que mais chamam a atenção, porém, são a sensual Lost Connection to Prague e a charmosa Novice Never Notice. São canções que misturam tudo que há de melhor no trabalho de Ed desde Conexão Japeri, Remixes e Aperitivos e Manual Prático para Festas, Bailes e Afins. Em Criterion of the Senses, pode-se dizer que Ed, enfim, atingiu o equilíbrio que tanto queria e esperava -- e que, durante sua busca, tanto sofreu e apanhou de uma fatia da população brasileira que não aceita os que viram de costas. É o melhor trabalho da carreira de Ed Motta. E, sem dúvidas, um dos melhores discos do ano.

 
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