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  • Foto do escritorMatheus Mans

Elza Soares se politiza ainda mais com 'Deus É Mulher'


Que álbum forte é Deus É Mulher, de Elza Soares. Ainda que a cantora sempre tenha fincado um pé na política e em temas sociais, é aqui que ela se rende totalmente ao tema e mostra que "nosso País é nosso lugar de fala". Numa evolução clara do último A Mulher do Fim do Mundo, Elza não tem medo de falar sobre política, racismo, religião e sociedade.

Já começa, aliás, com o pé direito com a sensacional O Que Se Cala. Com uma musicalidade que é um show à parte e tão característica de Elza, a canção parece um grito calado, um desabafo sobre seu lugar de fala. Uma revolução musicada, parecida com o que a recente Caravanas, de Chico, tentou. Emociona e parece ser um clássico desde já.. O mesmo vale para Língua Solta. Ainda que menos musical, é forte e intensa. Impressiona.

A pauta feminista também aparece clara em quatro das onze faixas. Dessas, a derradeira Deus Há de Ser é a que mais chama a atenção e que tem os versos mais fortes, interpretados por uma voz rasgante de Elza -- "Deus é mãe e todas as ciências femininas" é o primeiro verso, já mostrando a que veio. Eu Quero Comer Você é outro destaque, parecendo uma readaptação da estranha Pra Fuder. Deu mais certo desse jeito.

Elza, porém, não fica presa ao feminismo -- palavra que nunca é cantada por Elza ao longo do álbum -- ou política. Ela também provoca falando de religião (na mediana Exú Nas Escolas, que mais parece um manifesto, e a fortíssima Credo); sobre controle da mídia, da interessante e musical Hienas na TV; e até sobre si mesma nas boas Clareza e Um Olho Aberto. É interessante e inteligente essa mistura de gêneros e temas.

Há de se destacar, porém, uma música que parece caminhar sozinha, mas que possui uma força poética fortíssima: Banho, de Tulipa Ruiz. “Acordo maré / Durmo cachoeira / Embaixo, sou doce / Em cima, salgada / Meu músculo-musgo / Me enche de areia / E fico limpeza debaixo da água“, canta Elza, bem menos raivosa do que nas outras canções. Parece, na superfície, uma canção qualquer, mas que esconde muita política por baixo.

Deus É Mulher é um disco histórico, político, necessário -- não é à toa que versos de algumas das canções tomaram as redes sociais. É coeso e um necessário grito de Elza no alto de seus 80 anos e no 33º disco lançado, dando uma aula em algumas celebridades que surgem por aí. Elza faz jus ao que a BBC falou e se prova como uma das grandes cantoras do milênio. Afinal, não é só cantar bem. É preciso se posicionar, se politizar, se mostrar. E Elza faz isso como ninguém.

 
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