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  • por Matheus Mans

Em seu segundo álbum, banda NÃ volta ainda mais crítica e afiada


A banda NÃ surpreendeu, em 2016, com seu primeiro álbum, o coeso Farpa. Com letras fortes, críticas e brasileiríssimas, o disco conquistou um grande número de fãs e colocou o grupo no mapa do indie nacional. Nada Ficou, um dos hits mais interessantes de Farpa, perdura até hoje como uma das músicas mais fortes desse longínquo ano de estreia. Agora, a NÃ volta ainda mais crítica, afiada e brasileira com Antes Que Só Um Quase, segundo disco de inéditas do grupo que reafirma a banda como uma das mais ousadas, criativas e interessantes do atual cenário fonográfico brasileiro independente.

"Antes Que Só Um Quase é mais um passo na caminhada da banda", explica o baixista da banda, Thiago Pereira, em entrevista exclusiva concedida ao Esquina. E é fato: ao analisar o novo trabalho do grupo, fica evidente um avanço, uma caminhada, um forte e curioso aprimoramento de suas letras e melodias que se destacam ao pé do ouvido. A faixa que abre os trabalhos, Para Carmen e João, é forte e acústica, deixando suas notas impregnadas na mente por um bom tempo. Só não é melhor que sua sequência, a ótima Embalagem Alta Cultura. É um experimentalismo recheado de ritmos e suingue.

É uma mistura de afropunk raro no atual cenário, concatenado com um brasileirismo pulsante das cordas dos violões, do maxixe, do frevo, das notas bem definidas. É uma mistura de reflexões e inspirações que, afinal de contas, se torna uma identidade musical por si só. "Nós nunca pensamos em criar uma identidade musical, ela foi resultado do que cada um trouxe pras composições", resume o baixista Thiago Pereira.

Abaixo, confira a entrevista completa do Esquina com o baixista Thiago Pereira, representante da banda NÃ no lançamento do seu disco Antes Que Só Um Quase:

Esquina da Cultura: Vocês acabaram de lançar o segundo trabalho da banda. Como ele dialoga com o primeiro disco? Como vocês enxergam a evolução do trabalho de vocês?

Thiago Pereira: Antes Que Só Um Quase é mais um passo na caminhada da banda. Propõe uma continuidade ao mesmo tempo em que é diferente do Farpa. Essa diferença pode ser resultado de uma reflexão sobre o primeiro disco. Não uma análise dos acertos e erros, mas um entendimento daquele trampo, de como ele caminhou, de como nós tocamos aquelas músicas. Quando você cria algo há um segundo momento em que você consegue distanciar-se e enxergar a coisa por outro ponto de vista, e a partir daí você faz uma coisa nova. Nós fizemos um segundo disco.

Esquina: Durante esses dois anos entre um trabalho e outro, como foi a trajetória da NÃ?

Thiago: A Nã foi formada na gravação do Farpa, antes do disco não exista a banda, então depois de lançado procuramos lugares em que poderíamos tocar. Mesmo com todo o tempo que passamos ensaiando pra gravação a banda saiu do estúdio bem crua, mal nos conhecíamos. Então esses dois anos formam uma trajetória de autoconhecimento mesmo, tocando em todos os lugares que conseguíamos. A evolução da banda foi entre todos os percalços de uma banda nova.

Esquina: Se em 'Farpa' o estilo de vocês já se mostrava extremamente plural e polifônico, em 'Antes que só um Quase' vocês arriscam e ousam ainda mais na transição de gêneros e bases musicais. Como transitar tanto e manter uma identidade musical?

Thiago: Nós nunca pensamos em criar uma identidade musical, ela foi resultado do que cada um trouxe pras composições. Cada um na banda tem uma história com a música distinta, mesmo aqueles que já tocavam juntos. Daí conseguirmos manter essa “identidade musical” mesmo utilizando materiais musicais diversos.

Esquina: As letras contam com algumas provocações e significados afiados. Isso é fruto de um diálogo com os retrocessos políticos, sociais e culturais que vivemos? Como criar a partir de um cenário tão caótico?

Thiago: Não consigo pensar em como criar algo sem ter nele algum reflexo das nossas vivências, mesmo um trabalho diferente do nosso, que vocês identificam como tendo “provocações e significados afiados”, um trabalho mais brando, mesmo esse trabalho reflete os diálogos que quem o cria estabelece com a realidade em torno. Assim, mesmo um cenário caótico poderia frutificar a criação de algo, mesmo que seja largar a música, o cenário artístico.

Esquina: E como vocês enxergam a cultura no País hoje? Veem espaço para crescer?

Thiago: Nós entendemos que precisamos criar o espaço para continuarmos tocando. Não é apenas a existência de lugares para a música independente, mas algo mais é necessário. Esse “algo” é o complicado, eu não sei o que é (risos), “criar público”?, “tocar em playlist”?, ter muitas “curtidas" nas redes sociais?, conseguir “seguidores”, “circular na mídia”?. As pessoas escutam música de diversas maneiras. Escutar música não é só botar um fone no ouvido e dar um play. Tem gente que escuta pra malhar, tem gente que segue playlist, tem gente que gasta uma grana ferrada em discos, tem gente que defende que CD é muito melhor. Escutar música é algo complexo, não importa se é clássico, rock, jazz, axé ou funk. Cada estilo, cada pessoa realiza ou participa de um certo ritual. Aí, no meio de tudo isso, a gente quer crescer. É complicado, a gente faz o que precisa fazer, e lida com o que acontece depois.

Esquina: Qual a expectativa com o novo trabalho? O que planejam pela frente?

Thiago: A expectativa é de conseguir continuar tocando. A gente quer circular mais com as músicas dos dois álbuns, ir um pouco mais além de São Paulo e um pouco a mais fundo em São Paulo, tem muitos lugares pra tocar ainda.

 

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