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  • Foto do escritorMatheus Mans

Erasmo Carlos se volta ao romance em 'Amor é Isso'


Ir de encontro à discografia de Erasmo Carlos é fazer um passeio por grandes marcos da música brasileira. É possível encontrar rocks mais pesados (Minha Fama de Mau, Vem Quente que Estou Fervendo), clássicos prontos da MPB (Gatinha Manhosa, Mais Um Na Multidão, Mesmo que Seja Eu), parceria eternas com Roberto (Emoções, Detalhes) e um lado particular bem mais romântico e reflexivo (Mulher, A Carta, Do Fundo do Meu Coração).

O novo álbum do Tremendão, Amor é Isso, obviamente se encaixa nessa última categoria. Deixando de lado o rock de seus Sexo, Rock'n'Roll e Gigante Gentil, o cantor e compositor aposta em melodias mais leves, melosas e que -- como o próprio nome diz -- fazem referência ao amor mais puro, ingênuo e cotidiano. Nada da sexualidade exorbitante de Roupa Suja ou Vênus e Marte, por exemplo. São declarações de amor, reflexões.

É um estilo de Erasmo há décadas, mas que é mais conhecido na voz de Roberto. Algumas delas, aliás, parecem prontas para o Rei -- como é o caso da inaugural Convite para Nascer de Novo, que fica até estranha na voz de Erasmo. A boa Parece que Foi Hoje também é outra que encaixaria muito bem na voz de Roberto, ainda que ganhe uma boa interpretação de Erasmo. Assinada por Arnaldo Antunes, é um dos pontos altos do álbum.

Amor é Isso também conta com outras parcerias interessantes. Marcelo Camelo assina e canta a bossanovista Sol da Barra. É bonitinha, mas não sai muito do lugar-comum do gênero. Os dois, juntos, poderiam ter trazido algo mais. Emicida, enquanto isso, assina Termos e Condições. Ainda que seja divertida e atual, é a mais deslocada de todo o álbum. Não funciona muito bem. Já Minha Âncora, de Nando Reis, é a primeira canção a saltar aos ouvidos.

Outras faixas se destacam. Novo Love é a adaptação, em português, da música New Love, de Tim Maia, com quem Erasmo tinha uma forte conexão na juventude. Além da boa adaptação -- coisa rara hoje em dia --, a canção manteve a boa musicalidade de Tim e Erasmo conseguiu encontrar o tom vocal. Acareação Existencial é a mais rock'n'roll das 12 faixas e pode dar um acalento aos fãs que procuram pelo gênero num álbum do Tremendão.

São as duas últimas canções, porém, que parecem hits prontos para Erasmo. Não Existe Saudades no Cosmo parece pronta para ser parte da trilha sonora da vida de pessoas por aí. É inteligente, gostosa de ouvir e tem uma melodia deliciosa, lembrando clássicos de Erasmo. E Pagar pra Viver é uma composição mais descompromissada do Tremendão, contando com uma melodia que esbarra em É Preciso Saber Viver. Gostosa de ouvir.

Amor é Isso não é um álbum histórico de Erasmo, mas marca uma mudança de rumo interessante do cantor e compositor. Além de concretizar ainda mais algumas parcerias interessantes na MPB, o Tremendão mostra que não largou o romance mesmo após tantos anos apresentando trabalhos quase que exclusivamente de rock'n'roll -- assim como, claro, não deve ter trocado o rock pelo romance. Bom de ouvir, interessante de se aventurar. Erasmo, de qualquer jeito, é um poeta irresistível e vital para a música brasileira.

 
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