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  • Amilton Pinheiro *

No Festival de Brasília, cinema de intenções e pretensões


No Festival de Brasília de 2017, a dupla de diretores Ary Rôsa e Glenda Nicácio encantou os espectadores presentes com o primeiro filme deles, Café com Canela, que recebeu prêmio de público em dinheiro, ajudando-os a lançá-lo nos cinemas. Os cineastas também chamaram a atenção da crítica, que não economizou elogios ao filme, muito em função da empatia que a história e seus personagens traziam numa Bahia sortidas de sotaques e costumes, que dificilmente vemos nas produções nacionais.

Eles estão de volta ao festival, agora com o segundo longa deles, Ilha, exibido na noite de quinta-feira, 19. Um projeto muito mais ambicioso do que Café com Canela. Na história, um jovem da periferia sequestra, com a ajuda de um amigo, um cineasta conhecido para que este faça um filme sobre a vida dele. O cineasta é levado para a ilha em que o sequestrador nasceu. É de lá que o projeto será realizado.

Tirando a primeira cena do longa, vista dentro de um barco chegando a uma ilha, as imagens que veremos logo em seguida serão mostradas do ponto de vista do câmera do amigo do sequestrador. O tempo todo, o cineasta e o sequestrador terão esta lente subjetiva como intermediadores junto ao espectador. O diretor é confrontado pelo seu algoz diante daquela câmera opressora.

O filme propõe, na sua ambição “continental”, não apenas contar o jogo entre os três personagens, mas também compor a história do sequestrador, de sua relação com a família, tendo um pai abusivo. Quer dar conta também da relação com o cineasta, além de discutir os limites do que é fazer cinema num País subdesenvolvido, com suas inúmeras dificuldades, inclusive questionando para que ele serve afinal de contas. Mas as ambições não param por aí; o filme quer fazer da “ilha” uma metáfora do Brasil, com suas injustiças sociais, seu racismo, suas incongruências e sua violência.

Um amplo painel de temas propostos que não são resolvidos em grande parte. Fica a sensação de incompletude, clichês e ingenuidade com os temas tratados. Mas a história também nos reserva momentos poéticos e de grande força narrativa, quando o cineasta canta de capela a música Clube da Esquina II, que remete o espectador para outro nível de sensação e reflexão.

 
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