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  • Foto do escritorMatheus Mans

Nos bastidores de 'O Farol', a busca por um filme forte e original


Depois de ser financiado pelo brasileiro Rodrigo Teixeira para produzir A Bruxa, o cineasta Robert Eggers começou a trabalhar para vender a ideia de um filme sobre um farol no meio do nada. O produtor brasileiro ficou animado, mas um luz amarela se acendeu: o diretor Derek Cianfrance estava comandando um filme, justamente, sobre um farol. Será que não seria repetitivo? Será que não seria melhor focar em outra coisa?

"Aí eu assisti A Luz Entre Oceanos e imediatamente voltamos a falar sobre o projeto de O Farol", conta Teixeira, citando o emocional melodrama de Cianfrance. O resultado é este filme, em preto-e-branco, repleto de misticismo e mitologia para contar uma fábula intensa sobre um rapaz (Robert Pattinson) que foge de seus fantasmas ao se isolar num farol zelado por Thomas (Willem Dafoe). Definitivamente, nada a ver com Cianfrance.

Aqui, horror, drama, psicologia e fábula se misturam. Há uma mescla de sensações, de emoções, de histórias e metáforas. No começo, nada faz sentido. Mas, aos poucos, símbolos vão fazendo se ordenando e se encaixando, como num quebra-cabeça. O horror está ali, presente, como no A Bruxa. Mas não é determinante, sem elementos sobrenaturais ou coisas do tipo. Aqui, o homem é o lobo do homem. Ele é seu horror.

"A escuridão na mente das pessoas é terror por si só. O horror está ali, na mente de cada um", disse o cineasta em coletiva de imprensa realizada em São Paulo. No entanto, ele ressalta: é importante fugir de rótulos e não pensar em O Farol como um gênero fechado. "Há mitologia, conto de fadas. Fui também pro folclore da Europa Ocidental, das Ilhas Britânicas. E muitos paralelos com a obra do pintor simbologista Jean Delville.

No entanto, tranquilo e bem-humorado, Eggers não aparenta ficar chateado se as pessoas considerarem seu filme como horror -- ou, inclusive, como parte daquele tal pós-terror, termo que está caindo em desuso. "Esse filme não se define bem como A Bruxa. Mas eu não me importo com as classificações que as pessoas dão para os meus filmes. Afinal, elas categorizam as coisas para, justamente, discutir sobre as coisas".

Dando forma para 'O Farol'

Eggers contou, também durante a coletiva, que o ideal seria a construção total de um farol. No entanto, como o orçamento já era alto, acabaram pegando uma locação real, no meio do Atlântico. O preto-e-branco da fotografia acabou vindo naturalmente, quando Robert Pattinson disse que o interior da casa do farol parecia um "comercial romântico" -- para espanto de Willem Dafoe que, também presente na coletiva, mostrou surpresa.

"Além disso, usamos lentes da década de 1930. Outras, até mesmo de 1905", contextualizou o cineasta sobre o visual do filme. "Acaba dando uma atmosfera sensível'.

Sobre Willem Dafoe (Aquaman, Melancolia), Eggers afirma que não havia dúvidas -- mesmo com um notícia circulando por aí dizendo que o cotado para o papel era Daniel Day Lewis. "Quando o filme se tornou realidade, não discutimos outra opção que não fosse Dafoe", nega o diretor. "Ele pode ser um palhaço, um fanático religioso, um sádico. Quando ele faz um vilão, há alegria em seus olhos. Não havia mais ninguém pro papel".

Dafoe, lisonjeado, disse que o horror fez parte de sua formação como pessoa e profissional -- assistiu muito Frankenstein, Boris Karloff, dentre outros. E, para ele, o horror vai além de simples sustos, clichês e algumas outras coisas do tipo no gênero.

"O horror surge quando um personagem sente um medo que é incontestável", resume o astro, muito simpático e disponível durante a coletiva de imprensa. E, pelo visto, ele gostou de A Bruxa -- afinal, foi ali que o ator teve vontade de trabalhar com Eggers. "No mundo dele, tudo é muito preciso. O roteiro era muito detalhado. E é um tipo de precisão que chamou a atenção e me deu vontade de trabalhar com ele. Foi ótima a experiência".

(*) Filme visto durante cobertura da 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

 
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