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  • Débora Fernandes

'Master of None' conquista com comédia sobre cotidiano


À primeira vista, Master of None parece ser uma comédia comum – uma tentativa da Netflix de emplacar mais uma série que fale de homens diferentões e sexo de maneira descontraída, como faz com Love. Essa impressão, porém, é logo substituída pela percepção do que ela realmente é: uma reflexão divertida sobre a vida comum e, em partes, sobre racismo.

Criada por Aziz Ansari e Alan Yang, ela tem como eixo a rotina de Dev Shah (Ansari), um ator inexperiente, descendente de indianos, já na casa dos 30 e nascido nos Estados Unidos. A maior vitória do enredo é a simplicidade com a qual trata temas cotidianos para qualquer pessoa nessa faixa etária, intercalando lugares-comuns com experiências únicas sobre ser minoria nos EUA.

Curtos, os episódios possuem cerca de meia hora e são facilmente devorados sem se perceber o tempo passar. Como muitos jovens adultos, Dev não tem uma carreira estável, está à procura de um relacionamento e faz parte de um grupo pequeno de amigos. O pontapé inicial da primeira temporada é uma epifania sobre maturidade e a glamourização da paternidade, onde Dev percebe que ser pai não é muito sua praia. Genérico, o tema contrasta com outras reflexões de Master of None pouco abordadas por produções americanas.

Bom exemplo é “Parents”, episódio que traça um paralelo entre as vidas de imigrantes asiáticos por meio das histórias dos pais de Dev e de seu amigo taiwanês Brian (Kelvin Yu). Como uma singela homenagem, os pais de Ansari interpretam também os progenitores de seu personagem.

Assim, Master of None consegue criar um sentimento de identificação com um público amplo enquanto critica um padrão hollywoodiano – o de que o espaço de protagonismo é reservado aos brancos. Ansari o faz de maneira quase metalinguística, sendo um indiano com o papel principal em uma série americana na gigante do streaming, escrevendo sobre a dificuldade de Dev em emplacar papéis que não sejam direcionados especificamente à negros.

A segunda temporada, que chegou ao Netflix esse mês, continua a ser pautada por experiências do protagonista como minoria racial, integrando situações reais às perspectivas variadas de cada personagem. Ansari e Yang são mestres em combinar referências cinematográficas e elementos pop, como a febre por realities de cozinha com as particularidades da descendência de Dev – qual série faz uma ode ao filme Ladrão de Bicicletas, de 1948, para logo em seguida colocar seu protagonista como o apresentador de uma batalha de cupcakes televisionada?

Assim, a risada e as reflexões sobre a profundidade de certas questões se combinam de maneira natural. É triste que Ansari tenha precisado escrever seu próprio roteiro para se realizar como protagonista fora de Parks and Recreation – mas, não fosse isso, ficaríamos sem as incríveis perspectivas sobre o cotidiano que Master of None traz.

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