Começou a corrida pelo Oscar de 2020. Além de O Irlandês, Coringa e Dois Papas, chega a vez de Ford vs. Ferrari chegar aos cinemas nesta quinta-feira, 14, e engrossar a competição pela estatueta dourada. Dirigido pelo talentoso cineasta James Mangold (de Logan e Johnny & June), o longa-metragem acompanha a competição nos bastidores entre a americana Ford e a italiana Ferrari pela atenção na grande corrida de Le Mans.
E tudo começa quando Henry Ford II (Tracy Letts) é sumariamente rejeitado por Enzo Ferrari (Remo Girone) numa negociação frustrada. A partir daí, o magnata americano se mexe e contrata Carroll Shelby (Matt Damon), uma celebridade do mundo automobilístico, para montar uma equipe. Nela, o instável Ken Miles (Christian Bale) se torna o piloto principal e o responsável por levar a equipe ao estrelato mundial.
Com um estilo parecido com o excelente Rush, de Ron Howard, o longa-metragem mescla o drama pessoal dos personagens com sequências de corrida de tirar o fôlego -- é incrível o que Mangold faz aqui, com efeitos visuais e práticos. O espectador, se ver o filme numa boa tela, irá entrar na pista da Le Mans e se sentir como um piloto automobilístico. A câmera passeia de forma leve, deixando a imersão mais natural.
Surpreendentemente, os exagerados 152 minutos de duração do longa-metragem passam voando junto com os carros. Há uma gordura na metade da trama, culpa dos roteiristas Jez Butterworth & John-Henry Butterworth (No Limite do Amanhã) e Jason Keller (Rota de Fuga). Um excesso de termos técnicos, que interessam só os que gostam de corrida de carros, irá perder parte do público. Falta mais vitalidade por aqui.
Além disso, para encerrar os pontos negativos, vale ressaltar que a trama não ousa muito nos dramas dos personagens. O foco aqui, de fato, é a corrida nos bastidores para ter o automóvel mais rápido. A vida dos personagens é apenas pincelada -- no caso de Carroll Shelby, nem isso. Isso tira um pouco de autenticidade. E por mais que seja fácil gostar dos personagens, há uma falta de humanidade. Pra 2h30 de filme, faltou isso.
Mas, voltando aos pontos positivos, destaca-se as atuações. Matt Damon retorna à boa forma, após os desastres em Pequena Grande Vida, A Grande Muralha e Suburbicon. Ele é mais contido em cena, mas emociona e mostra verdade em seu personagem. Mas quem rouba a cena é Bale (Vice). Ele, novamente, se transformou fisicamente e chama a atenção com um personagem esquentado, mas cheio de boas ideias e muito paternal.
Vale ainda destacar Bernthal (O Lobo de Wall Street); Josh Lucas (Superação: O Milagre da Fé), insistentemente irritante; e Tracy Letts (Lady Bird), que tem uma cena hilária.
Em resumo, é um ótimo filme. Falta um pouco mais de ousadia para ser melhor do que Rush, e falta mais humanidade para ser realmente emocionante. Mas Mangold, de novo, surpreende com planos intensos, bom uso de efeitos especiais e um uso alucinante do som do motor de carro -- sem falar da boa ambientação, que coloca o público de cabeça nos anos 1950. Forte, angustiante, intenso. É um filme marcante.
E que deve chegar com força no Oscar de 2020. Joaquin Phoenix, fique de olho. Bale pode chegar de mansinho e, com tanta força e intensidade, tirar um prêmio quase certo.
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