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  • Foto do escritorJoão Pedro Yazaki

Crítica: Marvel se supera com ‘WandaVision’, com muita criatividade e coração


Com o lançamento mundial do streaming da Disney e depois do inédito hiato de mais de um ano sem novidades por conta da pandemia, a Marvel finalmente consegue dar continuidade ao seu universo cinematográfico, após eventos de Vingadores: Ultimato e Homem-Aranha: Longe de Casa, contando não apenas com filmes, mas também com séries de temporada única no Disney+. Quando anunciada, WandaVision parecia prometer ser apenas um spin off para atrair fãs de quadrinhos, porém surpreendeu e intrigou a muitos com uma história criativa, misteriosa e que aborda temáticas humanas, indo além do que se espera para um produto de super-herói.


Produzido por Kevin Feige e Jac Schaeffer, e com a direção de Matt Shakman, WandaVision nos mostra a relação entre Wanda Maximoff (Elizabeth Olsen) e Visão (Paul Bettany), dois personagens poderosos do universo Marvel que estão vivendo o American Way of Life durante os anos 50 em uma cidade de New Jersey, escondendo suas verdadeiras identidades de super-heróis. Contudo, ambos começam a suspeitar de coisas misteriosas acontecendo ao seu redor.


A premissa é simples, ainda assim intrigante. Afinal, sabemos que Visão não está realmente vivo e que tudo deveria se passar semanas após Ultimato, e não na segunda metade do século 20. O início da trama é marcado por várias perguntas que vão surgindo e nos deixando ansiosos para saber o que vai acontecer. As respostas são bastante satisfatórias, apesar de muitas chegarem de forma brusca. O começo pode parecer desinteressante, já que os 3 primeiros episódios servem mais para introduzir os protagonistas e o mundo onde vivem, do que andar com a história em si. Aliás, é possível dizer que é um forte defeito da série. Alguns episódios são curtos, porém arrastados, e outros possuem muita informação, mas são curtos demais.


Todavia, a série traz novidades que se diferenciam de qualquer outra produção da Marvel. A melhor delas é a forma de como a história é contada, construindo sua narrativa a partir de linguagens de sitcoms clássicos dos anos 50 aos 90, como The Dick Van Dyke Show e A Feiticeira, até chegar nos anos 2000, com inspirações em Malcolm in the Middle e Modern Family. Cada episódio tem uma estrutura diferente, algo que faz com que cada um tenha uma essência única. Além disso, a mescla entre os gêneros de comédia e suspense é bastante recorrente, se alternando a todo momento de forma eficaz, sem deixar de perder o tom, algo pouco comum nas produções da Marvel. Normalmente, vemos a atmosfera e o foco sendo interrompidos por piadas soltas em momentos equivocados.

Um outro acerto foi o investimento emocional em Wanda, Visão e alguns personagens secundários - interpretados por Kathryn Hahn e Teyonah Parris. Cada um com suas particularidades, deixando tudo mais crível. Por sinal, foi a primeira vez que conseguimos nos conectar de verdade com os sentimentos de Wanda. Vemos de perto os seus desejos e compartilhamos das angústias que ela sente. Temos aqui uma Wanda sentimental, de luto, que não conseguiu superar - e nem entender - as diversas perdas que sofreu no passado. Não vemos uma jornada de herói tradicional, mas sim alguém que está tentando lidar com essa dor. E também temos um Visão que não sabe se está vivo ou não; se é real ou não; se ele é apenas um mero androide ou se também pode ser um humano. Dois personagens tomados por inseguranças e medos, mas que demonstram lados afetivos.


Definitivamente, foi algo que deixou a história mais humana. Aqui, o foco não são cenas de ação mirabolantes com CGI de alta qualidade e muito menos servir como um espaço para inflar esse universo de conteúdo que não faz parte da história da série - como as teorias que vimos na internet, sugerindo aparições de Doutor Estranho, Mephisto e Reed Richards. O fanservice está sim presente para agradar os ferrenhos dos quadrinhos e os fissurados pelo MCU, mas os que gostam apenas de acompanhar as produções ou até mesmo para quem está chegando agora pode ser um prato cheio.


O que faz WandaVision ser acima das outras produções da Marvel são essas discussões sobre humanidade, amor e perda; coisas que nós podemos nos identificar e criar algum tipo de afeto. É verdade que tem episódios gordurosos e de ritmo descompassado, e o season finale não chega a concluir todos os arcos efetivamente. Mesmo assim, WandaVision demonstra ser uma série envolvente, divertida e com personagens marcantes. As expectativas estavam nas alturas. Vai de espectador para espectador se elas foram ou não alcançadas. No entanto, foi interessante ver a Marvel indo além de sua fórmula habitual e apostando em uma narrativa mais ousada com a sua própria identidade.

 
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