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Crítica: 'O Homem que Vendeu Sua Pele' falha ao não alcançar suas possibilidades

Foto do escritor: Matheus MansMatheus Mans

É frustrante, e um pouco melancólico, ver como O Homem que Vendeu Sua Pele simplesmente não consegue alcançar a potência que promete. Dirigido e roteirizado pela talentosa cineasta tunisiana Kaouther Ben Hania (de A Bela e os Cães), o longa-metragem se debruça sobre uma história peculiar: o refugiado sírio Sam Ali (Yahya Mahayni) que, para conseguir um visto para a Europa, aceita ser a "tela" de um artista plástico, que tatua sua obra de arte nas costas de Sam.


Assim, logo de cara, O Homem que Vendeu Sua Pele traz uma série de discussões contemporâneas e que chamam a atenção. Dentre elas, a situação dos refugiados, a forma como são tratados como mercadoria na Europa, a hipocrisia da elite e, sobretudo, um retrato interessante sobre os limites da arte. Parecia, de certa maneira, que o longa-metragem de Ben Hania caminharia pelo trajeto já traçado por The Square, filme que questiona esses limites.


Só que a cineasta, por algum motivo, não consegue ou não quer aprofundar essas questões. Ao longo dos 104 minutos de duração, Ben Hania arranha a superfície dessas questões tão pertinentes e não instiga como deveria, sequer provoca. Quer mostrar a impossibilidade de Sam em sequer poder se comunicar? Coloca uma cena dele tentando conversar com uma criança. Quer mostrar o preconceito que existe ao seu redor? Uma cena envolvendo ameaça terrorista.


Tudo segue por um caminho esperado, até mesmo monótono, falhando justamente na intenção de deixar o espectador boquiaberto ou surpreso com o que se desenrola na tela -- assim como a cineasta, acertadamente, fez em A Bela e os Cães. Além disso, desses 104 minutos, boa parte é dedicada a falar sobre um triângulo amoroso que não traz nada de novo ou interessante na trama. Poderia ser o ponto de partida para a ida de Sam à Europa, mas não o motor narrativo.


O Homem que Vendeu sua Pele, então, logo se torna uma experiência frustrante, apesar de seu final que, enfim, ousa e brinca com as sensações do espectador -- ainda que pareça tirado de algum filme de 2003. Vale dizer, porém, que não é ruim: Yahya Mahayni está bem como Sam Ali e há boas ideias aqui e acolá, vindas dessa história real chocante. Mas faltou o aprofundamento necessário para tornar este longa, indicado ao Oscar, tão memorável quanto poderia ser.

 

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