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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Paris, 13º Distrito' é filme passional sobre encontros e desencontros


Já batendo na casa dos 70 anos, Jacques Audiard é daqueles cineastas com um estilo conhecido, compreendido: falar sobre aqueles que, geralmente, não são ouvidos. Há exceções em sua filmografia, claro, como o esquecível Os Irmãos Sisters, mas essa qualidade acompanha os seus melhores trabalhos -- as limitações físicas em Ferrugem e Osso, a xenofobia em Dheepan: O Refúgio e O Profeta. Agora, em Paris, 13º Distrito, ele leva seu olhar de holofote para a juventude francesa, cada vez mais dinâmica e diversa, em uma Paris cada vez mais sem cor.


Assim como a Nouvelle Vague fez nos anos 1950 e 1960 um exame minucioso sobre o papel da juventude dentro da sociedade francesa, Audiard busca fazer aqui o seu exame contemporâneo do que é ser jovem na França do século XXI. No entanto, seu olhar não recai no óbvio, no clichê, no banal. Ele fala essencialmente sobre filhos de estrangeiros que nasceram na França ou, ainda, de pessoas que precisam sair de seus locais de origem e, agora, buscam uma cidade ou bairro para chamar de seu -- como o próprio título deixa bem claro, o 13º distrito de Paris.


São três os personagens que são constantemente observados pelo cineasta francês: Émille (Lucie Zhang), atendente de telemarketing, filha de taiwaneses e que tenta se afastar aos poucos das tradições e de parte das cobranças de sua família tradicional; Camille (Makita Samba), professor que tem o desejo de se tornar docente universitário; e Nora (Noémie Merlant), a última a entrar na história, que veio do interior e precisa enfrentar preconceitos -- e um ataque inesperado, que acaba inclusive direcionando a personagem para sua única amizade concreta.

Como dito, esses personagens são observados por Audiard. Nunca manipulados. Assim como a Nouvelle Vague, há naturalidade nas ações. O cineasta, afinal, não está aqui para provar um ponto, mas para trazer esse recorte, esse ponto de observação. É quase documental. O roteiro de Audiard, assinado também por Céline Sciamma (de Retrato de uma Jovem em Chamas) e Léa Mysius (Ava), dão conta de ainda mais complexidade na história -- com o olhar feminino sobre essa geração, as histórias ganham relevância e escapam de meros maneirismos e fetiches.


Enquanto isso, o vazio na vida dos personagens vai sendo preenchido, geralmente com toques de sexualidade e sensualidade -- Émille buscando sexo frequentemente, Camille fugindo de compromissos, Nora criando amizades em um ambiente puramente erótico. Há beleza nesses desencontros que, apesar de uma tristeza enraizada da falta de identidade e pertencimento que há na Paris (e no mundo?) de hoje em dia, ainda conseguem suavizar as asperezas dos cantos da vida. Tudo ainda com boas atuações, que deixam toda a experiência mais interessante.


O único porém fica para a repetição exagerada de algumas situações. Fica bem claro que Audiard, Sciamma e Mysius tinham um propósito de mostrar a natureza cíclica das relações sociais de hoje em dia -- isso fica bem claro. No entanto, escapes criativos e narrativos poderiam ter sido encontrados para dar mais potência à história, que acaba perdendo força e encantamento nos minutos finais. Ainda assim, um Audiard acima da média do que fez nos últimos anos (incluindo Dheepan) que vale a pena ser assistido na tela grande do cinema.

 

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