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Giulia Costa

Crítica: 'Years and Years' promete ser 'Black Mirror' ainda mais realista


Donald Trump é reeleito como presidente dos Estados Unidos; a China cria uma ilha artificial para utilizar como base militar; o meio ambiente entra em colapso e várias espécies começam a ser extintas; ucranianos buscam refúgio em massa no Reino Unido devido aos conflitos com os russos; jovens desejam se desfazer do próprio corpo para se tornar seres virtuais “transumanos”; pessoas fazem sexo com robôs; máscaras de holograma se tornam moda e cada vez mais teorias da conspiração que tentam invalidar a ciência são disseminadas. Esse é o futuro apresentado por Years and Years, nova série da HBO lançada na sexta-feira, 28.

Criada pelo roteirista e escritor Russell T. Davies (conhecido por ser responsável pela volta da série Doctor Who em 2005 e por trabalhos como Queer as Folk, Bob & Rose e Casanova), a produção britânica possui seis episódios e promete ser uma espécie de Black Mirror ainda mais realista.

A série já começa impactante com a personagem Vivienne Rook (interpretada pela brilhante Emma Thompson) afirmando que não dá a mínima para conflitos de outros países em um programa de televisão. Vivienne deseja se tornar a primeira-ministra britânica e aparenta ser uma versão feminina e inglesa de Donald Trump: uma famosa empresária, nacionalista ao extremo e de opiniões politicamente incorretas, que almeja uma carreira na política.

Enquanto assistimos ao desenvolvimento da campanha da candidata e suas tentativas de conquistar espaço na política (desde concorrer de forma independente até criar um partido próprio), também acompanhamos o cotidiano dos integrantes da família Lyons em meio aos avanços tecnológicos e à instabilidade política e econômica global dos próximos anos.

Os Lyons são diversos e acompanham as tendências atuais de representatividade de minorias nas telas. Daniel Lyons (Russell Tovey) é homossexual e casado com Ralph Cousins (Dino Fetscher), mas acaba se interessando por Viktor Goraya (Max Baldry), um jovem ucraniano refugiado; Stephen Lyons (Rory Kinnear) é um homem branco casado com Celeste Bisme (T’Nia Miller), uma mulher negra com quem tem duas filhas; já Edith Lyons (Jessica Hynes) é ativista e faz trabalhos sociais pelo mundo, enquanto sua irmã, Rosie Lyons (Ruth Madeley), é cadeirante e mãe solteira de um filho de pai chinês.

Years and Years consegue ser ainda mais realista do que a série da Netflix por começar em 2019 e abordar acontecimentos e tendências reais em sua narrativa, como o mandato de Trump, a ascensão da extrema-direita em vários países, o movimento terraplanista e uma conspiração contra a indústria farmacêutica (uma clara alusão ao crescimento do movimento anti-vacina). Além disso, por não ser uma história diferente a cada episódio, a produção permite com que o público se envolva mais profundamente com os personagens.

O roteiro da série é incrível e inteligente. Suas semelhanças com a atualidade contribuem para a criação de uma perspectiva bastante realista, bizarra e perturbadora do que pode ser o futuro da humanidade. A produção consegue equilibrar perfeitamente a carga dramática do enredo com os aspectos cômicos (para não dizer trágicos) da trama, além de retratar como cada personagem interpreta a sociedade e reage conforme suas próprias individualidades e problemas.

A possível realidade se torna ainda mais assustadora com os plot twists do episódio, especialmente seu final surpreendente e chocante que nos leva a refletir sobre comportamentos individualistas que adotamos. Em suma, as consequências de escolher ignorar o que está além da nossa bolha social podem vir a bater em nossa porta quando menos esperamos.

Years and Years promete ser uma série complexa e realista, repleta de diversidade, críticas sociais e ótimas atuações. Quem é fascinado por produções provocativas que abordam futuros distópicos não pode deixar de acompanhá-la.

 

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