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  • Foto do escritorMatheus Mans

'Guerreiros da Floresta' é mergulho na cultura e sociedade indígena


Muitas vezes, produções audiovisuais tentam exaltar a cultura indígena e, quase sem querer, acabam "exotificando" a figura do índio. Contam-se nos dedos as que, de fato, acertam na mosca -- o recente documentário Ex-Pajé, de Luiz Bolognesi, é um caso feliz nesse sentido. Agora, chega mais uma boa produção para desmistificar a cultura indígena nos dias de hoje ao mesmo tempo que traz importantes discussões políticas e sociais. É Guerreiros da Floresta, série da Futura que estreia nesta quarta, 20, às 22h30.

Composta por 13 episódios de 26 minutos cada, a produção mergulha na vida e na rotina das tribos Yanomami, Huni Kuin e Saruí, cada uma em algum lugar no Norte do País. Mais do que fazer um retrato fiel do cotidiano desses indígenas, porém, Guerreiros da Floresta vai além e tece interessantes críticas sociais, políticas e ambientais sobre rumos que a região, a cultura e as pessoas dessas tribos estão caminhando. É, acima de tudo, um documentário necessário para tempos sombrios para esses povos originários.

"A ideia vem de 2014, de uma imenso comprometimento com a causa indígena", explicou Andrea Pilar Marranquiel, diretora e produtora de Guerreiros da Floresta, durante coletiva de imprensa sobre a série. "Desde então, decidimos deixar a série com protagonismo indígena. São eles que conduzem a trama, eles que contam a história de suas tribos, de suas terras, de suas origens. Não tem ninguém falando por eles ali."

Esse aspecto ressaltado por Marranquiel, aliás, é o grande acerto da produção do Canal Futura. Ao contrário de casos que colocam brancos para contar histórias de minorias, como o assombroso Histórias Cruzadas, Guerreiros da Floresta parece ser feita pelos índios. Não há grandes intervenções na narrativa além de escritos pontuais e uma ou outra entrevista conduzida por algum branco, de fora da tribo -- mas são justificadas, como no caso do pesquisador que se aprofundou na cultura e origem de uma das tribos.

Dando essa voz aos índios, tão marginalizados e calados desde séculos passados, a série ganha corpo, importância e relevância. Sem isso, sem dúvidas passaria batida. "A série chega num momento crucial. É importante mostrar que nossa luta pela floresta não é uma luta pelo nosso povo. É uma luta pela humanidade", ressalta Ninawa Huni kuin, liderança indígena de uma tribo Huni Kuin. Almir Suruí, liderança da Saruí, ainda complementa: "não somos guerreiros que guerreiam. Somos guerreiros da paz".

Além da boa trama e do protagonismo indígena, porém, a série da Futura tem um outro diferencial ao seu lado: a exuberante fotografia de Henrique Mourão, que evidencia a natureza ao redor, faz brilhar os costumes das tribos e, principalmente, impressiona pelas imagens aéreas feitas com um providencial drone. Difícil não perder o fôlego.

Ninawa e Almir, que vieram vestidos com vestimentas típicas de seus povos, ainda chamaram a atenção para aspectos políticos urgentes que podem ser evidenciados pela produção -- ainda que nunca toquem no tema diretamente, dando nomes aos bois. "Mais da metade da minha vida foi dedicada para a luta indígena. Quero mostrar, agora, que tenho uma proposta para o Brasil desenvolver. É pra todo mundo, não só pra minha tribo", disse Almir. "O governo precisa conversar. Eles não sabem o que nós queremos, a gente não sabe o que eles querem. Será que vou ter que pegar meu arco-e-flecha?".

Ninawa, porém, terminou em tom solene, pouco antes de entoar uma música típica de seu povo. "Estamos começando a desacreditar na lei do papel. Nossa lei é espiritual".

SERVIÇO Onde? No Canal Futura. Ou no Futura Play. Quando? Quarta, 22h30. Até quando? São 13 episódios.

 
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