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  • Foto do escritorMatheus Mans

O empoderamento, a energia e a emoção de 'Pose'


Ryan Murphy é uma máquina de produzir grandes histórias. Começou com Glee e hoje já conta com produções de alto nível, como American Crime Story, American Horror Story e Feud. E quando parecia estar em seu ápice, emplaca mais uma grande produção: a série Pose, que acompanha a rotina de um grupo de transgêneros em plena década de 1980. É uma explosão de cores, músicas, energia, emoção e empoderamento.

A trama acompanha a vida de algumas pessoas, ainda que a centralidade da narrativa fique sobre os ombros de Blanca (MJ Rodriguez), Angel (Indya Moore), Elektra Abundance (Dominique Jackson), Damon Richards (Ryan Jamaal Swain) e Stan Bowes (Evan Peters). Todos eles, de alguma forma, ajudando a construir o clima da comunidade LGBTQ dessa época, com problemas sociais, AIDS, música e competições de dança. O trio principal, e todos personagens trans, são vividos por pessoas trans -- indo na contramão de papéis como o de Scarlett Johansson no vindouro Rub & Tug.

"Hoje não estamos num momento de questionar pessoas cisgênero podem fazer papéis de trans. Estamos numa discussão se atores e atrizes cis devem fazer papéis de trans", afirmou a atriz transgênero Wallace Ruy, da série Me Chama de Bruna, durante apresentação de Pose para a imprensa. "É preciso ter um espaço, na televisão e no cinema, que vá além das convenções, que traga pessoas LGBTQ para o protagonismo e mostre tudo que foi escondido sobre a cultura trans nos últimos anos. Pose faz isso."

O primeiro episódio, com mais de uma hora de duração, é um aula de filmagem e de como contar histórias. Com direção do próprio Murphy, a câmera passeia sem vergonha pelas cenas. As batalhas de dança, embaladas por clássicos da música disco como Ain't Nobody, On The Radio e I Wanna Dance With Somebody, levam o ritmo para fora da tela, como grandes produções que envolvem a música e a dança -- como o divertidíssimo Vem Dançar, o clássico Dirty Dancing e o adolescente High School Musical.

O roteiro da série também é afiado: apesar de tratar de muitos problemas, questões e fortes empoderamentos culturais, nada ali se perde. As tramas se entrelaçam e criam as mais variadas emoções no espectador. O aparente excesso de personagens também se dissolve, dando o protagonismo para quem merece de fato -- MJ Rodriguez (Luke Cage) é uma estrela pronta; Dominique Jackson parece que nasceu para o papel de rainha do clube; e Indya Moore (Saturday Church) é uma revelação inesperada na série.

Se Pose fosse um filme, sem dúvidas, iria faturar alguns prêmios do Oscar no início do ano.

Além disso, vale destacar a importância inequívoca de uma produção como Pose. A série vai além da superfície e mergulha, de fato, na cultura trans global -- cultura, aliás, que Madonna bebeu da fonte. A representatividade, como deve ser, transborda em cada cena, em cada ângulo de câmera, em cada ator, em cada música, em cada visual. É uma série que empodera e que, sem dúvida, trará ainda mais emoções para este público em específico. Afinal, por mais plural que seja o mundo, ainda faltam produções audiovisuais para chamar de suas. É preciso mais diversidade, amor e igualdade na TV e cinema.

"Eu tinha muita dificuldade em encontrar produtos para me empoderar, para me reafirmar como LGBTQ", conta Henrique Chirichella, dono da Logay, loja virtual para orgulho gay. "Tive que criar minha própria loja para encontrar camisetas, canecas, pulseiras que me representassem e me deixassem orgulhoso de ser quem eu sou. E, a meu ver, faltava uma produção audiovisual para cumprir esse quesito. Pose agora me completa."

 

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