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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Anon', da Netflix, é filme fraco, frio e superficial


O cineasta neozelandês Andrew Niccol tem uma carreira extremamente irregular. No currículo, ele conta com algumas produções realmente boas, como Gattaca e O Senhor das Armas, mas também já apresentou algumas bombas irrefutáveis como Simone, Good Kill e o instável A Hospedeira. Agora, o diretor chega na Netflix com Anon, longa-metragem que, infelizmente, se encaixa como uma luva na segunda categoria de produções esquecíveis e mal executadas.

Na trama de Anon, um detetive (Clive Owen) vive em um mundo onde não é possível ter privacidade e viver de forma anônima, impossibilitando que crimes aconteçam. No entanto, ele se depara com uma jovem totalmente desconhecida (Amanda Seyfried) e começa a perceber que as coisas não são tão simples assim. É uma história que lembra muito o longa-metragem Violação de Privacidade, com Robin Williams, e o episódio The Entire History of You, da provocativa série Black Mirror -- que, curiosamente ou não, também é da Netflix.

Porém, Niccol não consegue criar uma trama tão perturbadora quanto a da série e nem criar cenas tão interessantes quanto a do filme de 2004. Afinal, Anon é repleto de pequenos problemas que vão se amontoando e acabam tomando proporções gigantescas. O primeiro deles é quanto ao tratamento dado à história: ainda que o cineasta tenha se dado bem com temas tecnológicos em Gattaca e, parcialmente, em O Preço do Amanhã, aqui tudo é muito superficial. Quando parece que vai acontecer um mergulho mais profundo, o roteiro volta a ficar raso.

Além disso, a direção do neozelandês está fria, apática e sem impacto. Ele não consegue criar momentos memoráveis e deixa o filme muito lento e sem vida. Tem horas que parecia que Niccol estava tentando dar um ar de Blade Runner à produção, mas não consegue passar num produto genérico esquecível. E não há aspectos técnicos memoráveis: a fotografia é acinzentada demais, a câmera não inova e, praticamente, não trilha sonora ou bons efeitos.

O elenco, infelizmente, também está numa apatia desesperadora. Clive Owen está em uma maré péssima e ainda não conseguiu se recuperar de fracassos como Valerian e Os Últimos Cavaleiros. Continua sem grandes momentos na telona. Amanda Seyfried (Mamma Mia, Gringo) também continua com uma carreira absolutamente instável. Aqui, ela até tenta, mas é sobrepujada por uma personagem caricata, óbvia e sem aprofundamento. Colm Feoro (Thor) está operante.

Por fim, Anon -- seja em termos de roteiro, do próprio Niccol, ou direção -- perde a grande chance de se redimir nos minutos finais. Ao invés de entregar um final impactante que reverta tudo o que foi visto até então, o longa-metragem segue para um caminho também frio, apático e sem vida. O que é para ser uma grande revelação, se torna uma conclusão esquecível e um tanto quanto previsível. Não há força no final, que apenas esbarra na emoção.

Anon, então, sem dúvidas, não fica ao lado de O Senhor das Armas e Gattaca na filmografia do cineasta. É um longa-metragem esquecível e que é superado em qualidade temática, veja só, até por um episódio de 49 minutos de Black Mirror. Faltou se aprofundar no tema, faltou energia e faltou, principalmente, inovação na abordagem. De resto, só sobraram algumas boas sacadas -- como ilusões criadas na mente do detetive. Fica ao lado, também, de The Titan e Cloverfield: Paradox como grandes erros da Netflix na ficção científica. Melhor ir ver o filme do Robin Williams.

 
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