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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: Com novo filme, Kéfera ainda não se prova como atriz

Atualizado: 12 de jan. de 2022


Há algum tempo, a youtuber Kéfera decidiu trocar o sucesso na plataforma de vídeos pela vida arriscada -- e emocionante -- do cinema nacional. Como primeiro empreitada, Kéfera se arriscou no obscuro O Amor de Catarina e, depois, jogou certo no infantil É Fada, entrando num papel que já era de Paulo Gustavo. Agora, ela sai da sua zona de conforto e parte para Gosto se Discute, uma comédia madura comandada pelo experiente André Pellenz (Minha Mãe é Uma Peça).

Na trama, acompanhamos um chef de cozinha (Cássio Gabus Mendes) que foi do estrelato para o fundo de poço. Seu restaurante é considerado coisa do passado, já não tem mais movimento e está tendo que dividir as atenções com um food truck que parou na porta de seu estabelecimento. E para piorar, ele perde o paladar e a Kéfera, que interpreta a gerente de uma instituição financeira, chega à seu restaurante para mudar o funcionamento e dar um novo sentido ao local.

A história, como fica claro logo na sinopse, faz uma divertida brincadeira do novo que chega para ameaçar o velho -- o food truck vs. o restaurante, a especialista financeira vs. o chef já consolidado, a atriz youtuber e o veterano. É uma história de potencial e com um forte poder criativo, visto que toda a trama nasceu de uma crise pessoal e profissional que o seu diretor, André Pellenz, teve em 2008. E não há dúvidas de que as grandes histórias surgem nas grandes crises.

No entanto, a realização do filme não foi tão feliz quanto à ideia. Kéfera deixa a comédia de lado e investe numa espécie de drama. Afinal, sua personagem é uma pessoa calculista e sem muita empatia pelas pessoas ao seu redor. E isso, logo no começo, já não convence. O tom da atriz é artificial demais, soando de maneira engessada e sem o convencimento que é necessário. Pior: ao lado de Cássio Gabus Mendes, Kéfera some. Afinal, ele consegue se sair bem em qualquer papel.

Outro problema grave está no roteiro, escrito por Pellenz. Para dar um ar de seriedade para a trama, os diálogos estão recheados de palavrões aleatórios e existem algumas situações que não escapam de uma análise minuciosa do “politicamente incorreto” -- quando Kéfera joga spray de pimenta no limpador de fossa apenas por ele estar “fedendo”, por exemplo. E além disso, o roteiro cria um arco dramático para a personagem de Kéfera extremamente artificial.

Neste ponto, há ainda um adendo a ser feito. De tão artificial que é a evolução da atriz e da personagem, parece que várias situações depois da “transformação” de Kéfera ocorreram apenas para duas coisas: ejetar mais romance e comédia na trama e mostrar que a Kéfera não é mais uma youtuber adolescente. Quanto ao primeiro ponto, o único resultado é que o espectador é arrancado da tela com situações irreais. Já o segundo ponto rende uma cena de sexo incabível.

Outros pontos menores da produção -- que teve um orçamento mínimo, com menos de US$ 1 milhão em caixa -- também dificultam a apreciação do filme, como a trilha sonora que não encaixa e a fotografia um tanto quanto atrapalhada. Nesses pontos, porém, é necessário dar um desconto à produção, visto que tinham pouco dinheiro para ser gasto. Aliás, Pellenz consegue fazer mágica ao colocar Cássio Gabus Mendes e Kéfera no Mercadão para dar pluralidade de cenários.

Além disso, também vale ressaltar a ótima escalação do elenco de apoio. Nilton Bicudo, Zéu Britto, Ronaldo Reis, Robson Nunes e, principalmente, Paulo Miklos dão um show à parte. As únicas risadas que dei, de fato, vieram de situações criadas por esse elenco de apoio. É o exemplo perfeito de que como bons coadjuvantes podem salvar um filme da catástrofe total. Se não fosse esse grupo, com certeza o filme não ganharia uma cotação melhor do que péssimo.

Afinal, no conjunto, temos um filme atrapalhado. Cássio Gabus Mendes está bem, mas Kéfera entrega um trabalho ruim. O roteiro é desesperador de tão artificial, mas a direção é redonda, sem grandes erros. E no quesito técnico, a produção foi atrapalhada pelo baixo orçamento. Só salva, de fato, o elenco de apoio. E Kéfera, enquanto isso, ainda precisa se provar como atriz. Nesse ponto, por enquanto, ela parece uma onda passageira -- como os próprios food trucks do filme.

RUIM

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