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  • Bárbara Zago

Crítica: 'Corpo Elétrico' traz reflexões e simbologia ao cinema nacional


Quando se pretende escrever uma crítica sobre um filme, um dos principais pontos para ser observado é a questão de profundidade de personagens. Muitos filmes contam com uma história bem desenvolvida, mas não causam empatia com o protagonista justamente pela falta de aprofundamento. Corpo Elétrico, porém, tem outra premissa na qual se baseia toda sua proposta de enredo.

A primeira cena do filme, por exemplo, mostra dois homens nus, conversando sobre a vida, ainda que não seja possível ver os seus rostos. Apesar de a cena aparentar se logo após o sexo, percebe-se como esse assunto não é tratado de forma séria. Eles são amigos e que conversam com leveza. Não aparentam estar em um relacionamento e este assunto não é trazido à tona em momento algum.

Esta cena inicial já reflete aspectos que o longa irá apresentar em seguida, como a quebra de conceitos estabelecidos socialmente e, eventualmente, uma reflexão por parte da sua audiência. Filme de estreia de Marcelo Caetano (assistente de direção em Aquarius), Corpo Elétrico possibilita ao espectador refletir sobre a subjetividade de cada personagem e em cada momento de sua narrativa.

Afinal, ao longo dos 94 minutos de projeção, acompanhamos Elias (Kelner Macêdo), um jovem de 23 anos, de classe média baixa, que trabalha em uma confecção de roupas em São Paulo enquanto se encontra sexualmente com outros homens, que passam por sua vida rapidamente. A história é fraca, mas isso parece não ter importância, já que esse não é o objetivo do longa de Caetano.

A trama se desenvolve quase que nas entrelinhas, de forma que passa praticamente despercebida. Ao longo do filme, percebemos que os personagens têm coisas em comum: poucos laços com a família, poucos planos certos para o futuro, mas, principalmente, valorizam de maneira intensa o presente -- que aparenta ser a grande mensagem do filme, podendo trazer até certo desconforto.

Prova disso é durante a conversa de Elias com seu chefe. Quando questionado sobre como o rapaz se vê em cinco anos, o protagonista da trama não sabe responder. Ele apenas aproveita o momento, sem grandes preocupações em relação à sua carreira, família, amigos e relacionamentos. E, invariavelmente, este sentimento está relacionado com a sua própria subjetividade.

Corpo Elétrico, em primeira instância, parece fraco e pouco desenvolvido, ainda que aborde

temas como LGBT e situação socioeconômica de maneira elogiável. Depois percebe-se que

é um filme de pura reflexão, que questiona modelos sociais. Mais do que isso, o longa dá grande importância à simbologia do mar, que é mencionado na cena inicial e depois fica presente nos minutos finais.

Elias fala, logo no começo da projeção, que o mar é essencial, reconhecendo a sua necessidade de tempos em tempos. O mar, então, nada mais é do que uma representação da dinâmica da vida. É um lugar de renascimentos e também de transformações. As ondas falam da transitoriedade da vida. E que simbologia melhor para representar o próprio estado de espírito do filme?

ÓTIMO

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