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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: documentário sobre São Paulo é prato cheio para torcedores


O São Paulo Futebol Clube surgiu, na década de 1930, como um time quase desacreditado. Não tinha estrutura e chegou a falir, sendo "ressuscitado" por alguns fãs aficionados pelo clube e pela ideia de um time paulista. Na época da construção do Morumbi, anos depois, precisou novamente do dinheiro de torcedores para conseguir colocar o estádio de pé e driblar problemas internos -- isso, é claro, não impediu do time ser sucateado. Palmeiras e Corinthians, na época, até fizeram a brincadeira de que ganhavam os campeonatos no cara ou coroa. São Paulo só quando a moeda caía em pé.

Ainda assim, fez história no esporte brasileiro: conquistou três Libertadores, dois mundiais, seis brasileiros e 21 paulistas. Um campeão ao lado dos grandes nacionais.

É essa história que quer contar o documentário Onde a Moeda Cai em Pé: A História do São Paulo Futebol Clube. Parte da onda de filmes sobre times brasileiros, como Para Sempre Chape e Todo Poderoso: O Filme, o novo longa-metragem do jornalista e diretor André Plihal e do cineasta Pedro Jorge (Diamante, o bailarina) relembre esses bons momentos do tricolor por meio de boas recuperações de imagens de arquivo e, principalmente, de entrevistas com jogadores, torcedores, historiadores e dirigentes.

É quase uma linha do tempo, onde os melhores anos do clube são postos numa reta e contados passo a passo, valorizando ídolos, conquistas, algumas derrotas, louvores e, é claro, fracassos. O longa-metragem, ainda que de maneira superficial, também trata da história dos outros esportes que brilharam no SPFC, como o atletismo e o boxe -- este último na figura de Éder Joffre, que também ganhou o filme biográfico 10 Segundos Para Vencer. É uma estrutura narrativa monótona, mas que cumpre o objetivo principal: emocionar e criar sentimento de nostalgia à torcedores e pessoas que viveram o time.

Afinal, torcedores do time devem se emocionar ao rever gols de Leônidas da Silva, Chulapa, Raí, Rogério Ceni. Defesas históricas de Zetti. Conversas de beira de campo de Muricy Ramalho e Telê Santana. São momentos, cenas e personagens que, de alguma forma, transcendem o time e se firmam como figuras do esporte nacional. Ainda assim, infelizmente, Onde a Moeda Cai em Pé não deve surtir grande efeito em torcedores aficionados de outros clubes. É um trabalho de nostalgia padrão e muito direcionado.

Pedro Jorge e Plihal, afinal, insistem em usar elementos básicos de um documentário do tipo, como um excesso de recorrência do hino do clube -- talvez fosse mais interessante se fosse usado apenas nos minutos finais, como Bohemian Rhapsody fez espertamente com algumas músicas do Queen. É um fator que elevaria ainda mais a emoção e faria com que uma expectativa inócua fosse criada ao longo dos 108 minutos de projeção. Faltou essa esperteza dos realizadores, que não souberam guardar a emoção para os minutos finais. Acabou ficando algo diluído e sem coesão narrativa.

Os entrevistados, porém, conseguem ultrapassar essas barreiras -- algo que Timão também fez muito bem, mas que Para Sempre Chape, Santos, 100 anos de futebol arte e Palmeiras: O Campeão do Século não conseguiram atingir com uma mesma qualidade. É uma mistura inteligente de torcedores anônimos e ilustres, como Lima Duarte e Nando Reis, com historiadores sem enrolação, dirigentes sem abobrinhas e jogadores passando toda a emoção da época em que atuavam no clube. Apenas sobre este último ponto que fica a falta de alguns nomes, como Kaká e Luis Fabiano. Mas dá pra passar.

Onde a Moeda Cai em Pé, então, é um prato cheio para os torcedores do time, que vão se emocionar, relembrar e se maravilhar com a história do time de futebol -- que, contrariando Palmeiras e Corinthians, mostrou que moeda cai em pé várias vezes. Mas, por ser um filme burocrático e sem muito inspiração de cinema, acaba tendo um público muito restrito. Pessoas que não gostam de futebol vão apenas se encantar com um ou outro lance e torcedores de outros times, sem dúvidas, ficarão impassíveis. É um filme de nicho. E sendo assim, funciona muito bem. O cinema, com esse filme, vai virar estádio.

 

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