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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Açúcar' explora relações sociais e raiz escravagista brasileira


Faz mais de 130 anos que a escravidão foi abolida no Brasil, após uma "canetada" da Princesa Isabel. No entanto, mesmo depois de tanto tempo, as raízes escravagistas continuam a se fazer presentes na sociedade brasileira. Negros continuam com menos oportunidades e sofrem de racismo estrutural, enquanto brancos mantém privilégios e persistem na "casa grande social".


São esses elementos que são explorados no longa-metragem Açúcar, nova empreitada cinematográfica da dupla Sérgio Oliveira e Renata Pinheiro (Amor, Plástico e Barulho) e que chega aos cinemas nesta quinta-feira, 30. Com referências à fantasia, ao folclore e aos mitos de regiões interioranas do Brasil, o filme se debruça sobre essas questões raciais, sociais e étnicas.


Na trama, Bethania (Maeve Jinkings, sempre certeira) volta para o engenho de açúcar abandonado de sua família -- uma daquelas de renome no interior. E apesar da casa estar num estado decrépito e a situação financeira da protagonista não ser das melhores, ela continua se sentindo dona do pedaço. Manda e desmanda, destrata os mais pobres e se apodera do lugar.

Dessa forma, Oliveira e Pinheiro criam uma trama repleta de contrastes, significados e metáforas poderosas sobre tomada de espaço, poder herdado e, principalmente, luta social.


Jinkings (da novela A Regra do Jogo) sabe entrar no ritmo da história e compreende todas as sutilezas e camadas de sua personagem. A evolução no seu estilo de fala e comportamento traz os sintomas de uma sociedade doente, apegada aos costumes e tradições -- por mais perigosos que sejam. É interessante o mergulho que Açúcar promove na psiquê de sua protagonista.


No entanto, nem tudo são flores. O longa-metragem traz esse aspecto fantasioso -- ressaltado no começo do texto --, mas não vai afundo. Ao contrário de As Boas Maneiras, por exemplo, a dupla de diretores não consegue evoluir nas questões que traz na superfície. Infelizmente, dessa forma, o lírico se torna cafona e até perigoso. Transformar negros em animais é complicado...


No final das contas, essa fantasia -- que tinha tudo para ser o grande diferencial de Açúcar frente outras produções do gênero -- derruba a qualidade do filme. Teria sido melhor focar na loucura e ilusão que cerca a protagonista (e que tem uma cena poética e incrível envolvendo terra no final). Açúcar, assim, teria ido mais longe. Assim, será mais um filme incompreendido.


 

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