
Observou-se com muita atenção o retorno do cineasta Theu Boermans para a direção de um filme quase 30 anos depois de seu primeiro (e até então único) longa-metragem para os cinemas. A volta triunfal aconteceu com Além do Tempo, longa-metragem que fala sobre luto, perdas e famílias e que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 4 de agosto.
A trama é simples, beirando o simplista: acompanha um casal de jovens (Sallie Harmsen e Reinout Scholten van Aschat), nos anos 1980, que perdem tragicamente o filho pequeno enquanto estão velejando. A partir daí, a vida dos dois muda do vinho para a água. Tudo ia bem antes, o mundo era colorido, atraente. Após a morte do pequeno garoto, tudo se torna cinza.
Nesse contexto, Além do Tempo se divide em dois momentos: primeiramente, mostrando esse casal jovem enfrentando a dor da perda; e, em outro momento, com eles mais velhos, se reencontrando, percebendo que o amor ainda existe e que a dor pelo filho sobreviveu ao tempo.
Na teoria, um filme bonito. Emocionante? Talvez. No entanto, Boermans -- e o roteiro de Marieke van der Pol (O Voo das Noivas) -- acaba se aproximando mais de O Último Ônibus e se afastando de outros bons filmes sobre luto, como Alabama Monroe. Se não assistiu a nenhum dos dois filmes, explico: Boermans força uma trama exageradamente emocional sem muita substância.
É a emoção pela emoção, o choro pelo choro, a tristeza pela tristeza. Ele te força a chorar (e com certeza será eficaz com boa parte do público, principalmente aqueles que se identificam com a história de alguma forma), mas dá pouquíssima substância para a história desse casal vivendo em constante sofrimento. Quando o filme acaba, não sabemos nada sobre eles -- só sobre o luto.
Esses 30 anos de afastamento de Theu Boermans, infelizmente, não fizeram bem ao cineasta. Ele ficou preso nas fórmulas e estilos dos anos 1990, sem conseguir modernizar seu jeito de contar histórias. É claro que é bom manter a personalidade, mas é preciso avançar no estilo, na sensibilidade -- ficar preso em um formato para sempre é o pior que pode acontecer no cinema.
É claro que Além do Tempo tem os seus méritos e seus bons momentos (além da ótima atuação de Sallie Harmsen, por exemplo), mas nunca consegue trazer a complexidade que o momento dos personagens exige. É como um barco à deriva: sabe o objetivo, mas não como chegar.


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