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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Crush à Altura', da Netflix, é filme romântico problemático


Ok, ok. Você, caro leitor, pode argumentar que Crush à Altura é um filme que cumpre o que propõe. É adolescente, passa uma mensagem simpática na superfície, tem um romancezinho bonitinho. Tudo bem. Isso tudo está no longa-metragem da Netflix, que volta a apostar nessas histórias de superação juvenil, como no esquecível Sierra Burgess é uma Loser. Mas não se engane. Por baixo dessa camada simpática, de visual indie, há um filme fraco de mensagem problemática. E vou provar meu ponto.

Estreia em filmes da diretora de televisão Nzingha Stewart, o longa-metragem conta a história de Jodi (Ava Michelle), uma garota muito alta que sofre preconceito na escola. As pessoas riem de sua altura, perguntam como está o cima "lá em cima" e a consideram, de certa forma, uma aberração. A garota, porém, quer enfrentar a imagem que tem no colégio quando Stig (Luke Eisner), um rapaz da Suécia, chega para um intercâmbio na escola de Jodi. Como conquistar o rapaz, tão desejado pelas meninas?

A premissa, de fato, é bonitinha e fala sobre um tipo de preconceito que, geralmente, é esquecido. Além disso, no começo, a cineasta se vale de um estilo de filmagem quase que independente. Sua câmera deixa espaços, aproveita cores e centraliza os personagens no centro da tela -- por vezes oprimindo a cena, por vezes a colorindo. É um jogo de cena interessante, que dá um gás no começo do filme. No entanto, aos poucos, os problemas vão surgindo e soterrando as boas intenções da diretora.

Primeiro grande problema: Jodi, por mais que tenha um arco bem definido, não parece ser desenvolvida. Suas dores internas, sua busca por eu mesma e até o sofrimento advindo do bullying acabam relegados a um ou outra cena. Não há uma constituição do que ela passa, sente. Os pouco mais de 100 minutos de filme acabam sendo mais dedicados ao entorno da personagem: os clichês de colégios americanos, o melhor amigo que é apaixonado, o bonitão, a menina boazinha que é amiga da patricinha.

Todos os estereótipos estão ali, desfilando pela enésima vez num filme infanto-juvenil. Será que não teria sido mais interessante focar na personagem principal e desenvolver um ou dois personagens coadjuvantes? Precisava trazer todos esses clichês de volta?

O grande problema, porém, está na forma como Jodi se transforma. Por mais que haja uma boa intenção da diretora e da protagonista Ava Michelle, o roteirista estreante Sam Wolfson erra a mão quando coloca essa transformação condicionada aos homens ao redor de Jodi. O que faz com que ela se mova, e se transforme, não é uma autoconsciência ou algo que parte do fundo do coração da personagem. É apenas as circunstâncias ao redor que a faz mudar. E a instigar o preconceito. É sério isso?

É preciso que um rapaz inconsequente quebre o coração de uma garota para ela reparar em si mesma? É preciso uma briga entre dois homens para ela perceber quem ama, entender o bullying e, assim, ter uma tomada de consciência mágica e repentina?

Crush à Altura, por mais que tenha esse título de século XXI, parece parado nos anos 1990 ou coisa que valha. A mensagem é ultrapassada, errada, preguiçosa. Falta empoderamento para a protagonista. Falta independência. Falta uma história que seja conectada com a realidade das pessoas. A Netflix, mais uma vez, erra feio. E como!

 

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