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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'De Quem é o Sutiã?' é comédia sem conexão com o Brasil


Confesso que pensei muito antes de publicar a crítica com este título. Afinal, será que existem culturas que não se conversam? O Brasil é fruto de um povo miscigenado, advindo de muito suor, sangue e trabalho. Não é à toa que aceitamos -- ou aceitávamos, antes dessa guinada nos costumes e na política -- todos os povos em nossas terras. O Brasil entende todos e todas.


No entanto, é difícil compreender a história da comédia aparentemente inofensiva De Quem é o Sutiã?. Dirigido pelo alemão Veit Helmer (Tuvalu), mas ambientado numa vila no distante Azerbaidjão, o longa-metragem acompanha a jornada de um maquinista (Predrag 'Miki' Manojlovic) que tenta encontrar a dona de um sutiã que ficou preso na lataria do seu trem.


É uma espécie de Cinderela. No entanto, no lugar do sapatinho de cristal, o sutiã azulado. No lugar dos pés, seios. E dessa forma, o protagonista -- sem falar nem uma única vez no filme, só usando de gags e de um estilo parecido com Charlie Chaplin -- sai em sua busca, de casa em casa, tentando encontrar a donzela que, nos sonhos do maquinista, está em busca da peça.

O fato é que, apesar de ser um filme divertidinho e simpático, ele soa muito estranho e o humor quase some. Nurlan, o protagonista-maquinista, visita a casa das mulheres da região e, do nada, as vê trocando de roupa na sua frente. Ficam nuas, experimentam o sutiã, tentam seduzi-lo para ficar com a peça. E no local só existem mulheres lindíssimas, como Paz Vega e Frankie Wallach.


Parece um sonho onanístico de Helmer, que imagina um mundo onde as mulheres ficam nuas sem mais nem menos, e dão corda para qualquer um. Humor é substituído pelo estranhamento.


A questão que levanto no título é uma suspeita de que, talvez, na cultura alemã de Helmer ou na cultura do Azerbaidjão isso seja algo comum. Mas não dá para ficar levando isso em conta o tempo todo durante a projeção. Há um incomodo ali. Ainda mais que o cineasta, que também é o responsável pelo roteiro, fica insistindo numa imagem exageradamente inocente de Nurlan.


Até que, em determinado momento, o protagonista faz algo de muito mau gosto. Para alguns, inclusive, pode ser considerado como abuso. Aí desconforto toma conta, mesmo com a graça que é o menino que avisa da passagem do trem. O que era para ser uma comédia de trejeitos e piadas físicas se torna uma comédia sem muito sentido, fora do que estamos acostumados.


De Quem é o Sutiã? tem sua graça, sua magia. Quem vencer esses problemas iniciais pode até se divertir com a aventura de Nurlan e de sua Cinderela dos seios fartos. Mas, no geral, o longa é desconfortável, estranho e o riso chega aos atropelos. É interessante ver como se comportam as outras culturas. Mas isso não indica que, necessariamente, fará sentido para nós brasileiros.

 
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