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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Hotel Artemis' parece um grande episódio piloto de série


Sabe quando alguma coisa promete muito, com muita emoção e adrenalina, e no final entrega quase nada? O sentimento é quase sempre o mesmo, variando entre desapontamento, raiva e tristeza. Hotel Artemis é exatamente isso. Desde seu elenco, passando pelo trabalho de marketing e indo até a condução da trama pelo diretor Drew Pearce, o longa promete uma história entusiasmante, mas entrega apenas pontas soltas e decepção.

A ideia do longa, também roteirizado por Pearce, é muito boa. O mundo está em colapso pela falta de água e a violência corre solta. Para atender criminosos feridos, então, é preciso recorrer ao Hotel Artemis, um hospital no coração da Califórnia e comandado pela enfermeira linha-dura Jean Thomas (Jodie Foster). Ali, é preciso seguir todas as regras e, caso haja problemas, o segurança Everest (Dave Bautista) deixa tudo seguro de novo.

A coisa só começa a sair do controle quando um grupo de criminosos começa a se juntar no local. Primeiro, Nice (Sofia Boutella) e Acapulco (Charlie Day). Ela, uma assassina fria e profissional. Ele, um vendedor de armas esquentado. Logo depois, os dois irmãos Waikiki (Sterling K. Brown) e Honolulu (Brian Tyree Henry). E, pra encerrar, o chefão do crime The Wolf King (Jeff Goldblum) e seu filho, o irritadiço Crosby (Zachary Quinto).

Assim, a partir desse emaranhado de histórias e personagens, Drew Pearce vai criando uma teia de situações que lembram John Wick, um pouco da lógica de Duro de Matar e a violência oitentista de Atômica -- as músicas que compõem a trilha sonora, aliás, são clássicos que caem muito bem dentro proposta. São vários atores bons, bom visual, boa inspiração fílmica e, como já dito, uma premissa que agrada e entusiasma com o que pode vir.

Só que dá tudo errado. É difícil entender o que Pearce queria com Hotel Artemis. Já que tinha um elenco afiadíssimo -- Jodie Foster (Elysium) dá um show de interpretação, e Dave Bautista (Guardiões da Galáxia), Sofia Boutella (A Múmia) e Sterling K. Brown (Pantera Negra) possuem muita presença em tela -- e uma boa ideia, que acompanharia os sucessos de John Wick, Atômica e Protetor. Ou seja, fio de história que traz grandes cenas de ação.

Mas o fato é que Pearce tenta contar tudo e não conta nada. Na ânsia de desenvolver vários personagens e várias histórias, muita coisa fica pelo caminho -- a personagem de Jenny Slate (Venom) nem tem uma conclusão. Há um inicio de história a partir de um objeto que Waikiki carrega -- e que poderia gerar uma espécia de Mad Max dentro de um prédio --, mas é abandonada. Jeff Goldblum, Zachary Quinto e, principalmente, Charlie Day não servem pra nada. São quase figurantes de luxo ali.

No final, ainda há algumas cenas de violência interessantes e bem produzidas -- duas diferentes cenas de luta, envolvendo Bautista e Boutella, são incríveis -- e há uma sacada genial envolvendo uma impressora 3D. Mas as pontas soltas, os furos de roteiro e as tramas inacabadas incomodam. Pode ser que Pearce estivesse pensando em uma continuação -- um problema do cinema atual -- ou, ainda estivesse pensando em fazer a história virar uma série. Tudo isso poderia funcionar. Mas o fato é que Hotel Artemis não foi pra frente.

É possível até que o espectador se anime com algumas cenas de violência, com a atuação irretocável de Jodie Foster ou pela presença enérgica de Bautista, Boutella e Goldblum. Mas, infelizmente, o que fica no final é a impressão geral. E é impossível não sentir que Hotel Artemis prometeu -- e, pior, poderia -- entregar muito mais do que é visto em tela. E aí surge o desapontamento, a raiva e a tristeza. O sentimento que cada um quiser.

 
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