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Crítica: 'Livros Restantes' é um dos filmes mais sensíveis de 2025

  • Foto do escritor: Matheus Mans
    Matheus Mans
  • há 50 minutos
  • 2 min de leitura

Que grande ano para Denise Fraga nos cinemas. Depois de surpreender com a tragicomédia Sonhar com Leões -- sobre o qual falei largamente no Estadão --, a atriz volta a se destacar com mais um título: Livros Restantes, estreia desta quinta, 11.


Dirigido e roteirizado por Marcia Paraiso (cineasta, aliás, que vale ficar de olho), o longa-metragem conta a história de Ana (Fraga), que está deixando tudo pra trás, em uma pequena vila pesqueira em que mora no Brasil, para se mudar para Portugal. Nesse processo, ela decide abraçar uma decisão terapêutica: devolver determinados livros de sua estante para pessoas do passado. São aqueles que a presentearam com livros.


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E é nesse processo, de devolver os livros, reencontrar antigas amizades e colocar o papo em dia, que Ana começa a se reexaminar -- veja como não é exagero dizer que a tal decisão é terapêutica. Ela, além de familiares e amigos ao seu redor, começam a repensar a vida que corre pelo entorno. O irmão coloca um ponto final em um antigo segredo, a mãe revela mágoas e orgulhos, um antigo contato coloca as asas de fora...


Livros Restantes, obra recheada de beleza e sentimento, quer, acima de de tudo, colocar as pessoas contra o eu do passado. É um confrontamento de tempo e entre tempos que se revela a partir de um simples livros. Não apenas aquele amontado de páginas e letras guarda em si uma história própria, como também carrega significados do entorno. Marcia Paraiso coloca isso com elegância na tela, sempre em busca de uma simplicidade para não exagerar no drama; de uma emoção que não carregue tintas.



Por exemplo: há uma cena impactante em que a família de Ana está toda reunida ao redor de uma mesa. Irmão, cunhada, mãe, tios. É a receita do caos. Mas Marcia nunca cai na tentação de transformar aquilo num circo, num teatro do exagero -- como no filme Álbum de Família, melhor exemplo dessa falta de limite. Pelo contrário: tudo é controlado, milimetricamente dentro do tom. Até que uma pequena coisa escapa, tudo explode, mas logo tende a retornar ao normal. É assim que as coisas andam, é assim no dia a dia. Marcia entende isso e nunca, em momento algum, passa do ponto.


O elenco contribui bastante para esse resultado mais do que positivo. Denise Fraga transita maravilhosamente bem entre os sentimentos que Ana, sua personagem, vê aos poucos dentro de si. O remorço, o arrependimento, a dor, a felicidade, o alívio. Tudo isso vai se mostrando aos poucos, cá e lá, com a atriz acompanhando bem essa multiplicidade de emoções. Destaque ainda para todo o elenco de apoio, que sustenta Denise -- Augusto Madeira, que vive o ex-marido, é um dos principais destaques.


Livros Restantes, assim, é um filme maduro sobre tempo, memória, reconciliação, finais. Recheado de sentimento, é meu filme brasileiro preferido de 2025 ao lado de Oeste Outra Vez. Mostra, enfim, como o Brasil está em sua melhor fase no audiovisual em anos, com produções de diferentes olhares, localidades, pensamentos, ideias ganhando impulso e mostrando que o Brasil é um dos melhores países para contar histórias.


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