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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Não! Não Olhe!' mostra Jordan Peele flertando com o espetáculo em trama complexa


Confesso que saí da exibição de Não! Não Olhe! sem rumo. A assessora da Universal Pictures chegou a me perguntar o que tinha achado da película de Jordan Peele e não sabia muito o que achar. É um sentimento diferente do que senti nos outros filmes do cineasta: Corra! trouxe choque e surpresa, enquanto Nós me causou maravilhamento e estupefação. Esta nova produção, que chega aos cinemas na quinta-feira, 25, trouxe dúvida. O que acabei de assistir?


O fato é que Não! Não Olhe! é o filme mais "fora da caixinha" de Peele -- e isso não é pouco para o cineasta. Mistura de horror, ficção científica e faroeste, o longa-metragem brinca com os gêneros e as possibilidades narrativas para contar a história de OJ (Daniel Kaluuya) e Emerald Haywood (Keke Palmer), dois irmãos que são donos de um rancho de cavalos e, dentre outras coisas, trabalham com os animais em filmes. Até que uma estranha criatura chega na região.


Com claras influências de Tubarão e até mesmo com toques de Shyamalan, Não! Não Olhe! funciona perfeitamente como um filme de espetáculo. Um filme pipoca. Quem entrar no cinema sem saber quem é Peele ou sem expectativas do que encontrar, vai se deliciar: com uma direção vigorosa do cineasta, que imprime um estilo bem diferente do que foi visto em Corra! e Nós, dá para embarcar na história de pessoas tentando sobreviver em um ambiente atípico e violento.

De novo: funciona perfeitamente, seja como ação, aventura, ficção científica ou faroeste. Mas não dá para achar que Peele vai fazer apenas um blockbuster pipoca. Ele mesmo já disse, em entrevistas, que um filme com um elenco majoritariamente negro traz significados, ideias ou opiniões. A partir disso, percebe-se duas coisas: Peele tem muito a dizer aqui, principalmente no que concerne ao tema da vigilância e, em um segundo olhar, na temática da própria Hollywood.


Em termos que podemos falar mais largamente em outro texto com spoilers, Não! Não Olhe! une esses dois conceitos para entender como é o papel das minorias (aqui representada por negros e latinos) dentro de uma lógica de espetacularização. A câmera, objeto central dentro da proposta do filme, exerce um papel quase de onisciência contra essas pessoas. Peele representa isso graficamente de maneira extensa, desde o alien-chapéu até a obsessão em registrar.


O indomável se torna espetáculo. Não! Não Olhe! é Peele criando uma obra sobre a sensação que temos quando passamos por um acidente -- não devemos olhar a pessoa em sofrimento moribundo, mas diminuímos a velocidade para dar uma espiada. É esse sentimento que é televisionado e, agora, Peele aponta na cara da sociedade. De Hollywood? O fato é que o diretor criou seu King Kong, seu Jurassic Park, e mostrou como pode ser intempestivo. Que diretor!

 

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