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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'O Amigo do Rei' emociona, mas peca pela duração exagerada


Não importa a duração de um filme. Pode ter 90, 100 ou até 180 minutos de duração. O que importa, de fato, é a história ser bem contada. Não deixar arestas, saciar o público e, quando for preciso, surpreender. Não é à toa que alguns dos clássicos do cinema mundial chegam a ultrapassar três horas de duração, como é o caso dos filmes de O Senhor dos Anéis, ...E o Vento Levou e Poderoso Chefão. Mas o complicado é quando um filme insiste em ser longo e, no final, anda em círculos. É o caso de O Amigo do Rei.

Novo filme do sensacional André D’Élia (Ser Tão Velho Cerrado), este documentário que chega aos cinemas nesta quinta, 8, é um exagero, apesar de sua existência ser necessária. Ele conta a história e os bastidores do rompimento da barragem de Mariana, em Minas Gerais. Um dos maiores crimes ambientais da história moderna do Planeta Terra e que ainda tem rastros por aí -- como as famílias desabrigadas e desorientadas, o rastro de lama na natureza, a morte de rios e brejos, extermínio de animais, por aí vai.

É, sem dúvidas, uma produção muito coerente ao se comprar com o restante do trabalho do cineasta, sempre muito proativo em causas ambientais. O filme faz sentido dentro de sua carreira e avança em várias questões. O cuidado nas entrevistas, as imagens de arquivo e a qualidade da gravação são coisas que surpreendem durante a exibição e que dão aquela boa sensação de estar vendo algo muito bom na telona. Sem dúvidas, D’Élia se empenhou na produção do documentário. É algo visível no filme.

Além disso, vale frisar o quão importante é trazer essa questão de volta à tona. A Samarco e a Vale, apesar dos danos imensos e incalculáveis, saíram quase impunes da tragédia. Uma dívida foi paga, mas a forma como o dinheiro seria gasto foi decisão das empresas. A cidade de Bento Rodrigues vai ser reconstruída, mas a quilômetros de distância e perto de um lixão -- por decisão da Samarco, claro. Além, é claro, de uma série imensa de maracutaias e crimes políticos que ocorreram por debaixo dos panos.

Aliás, é impressionante como o cineasta não se deixa levar por clamores políticos. Crítica a gestão de Dilma Rousseff (PT), de Fernando Pimentel (PT-MG) e de conchavos que nascem sempre no colo do MDB. Principalmente os que envolvem Minas e Energias.

No entanto, apesar desses vários pontos positivos e do debate importante que é travado, é inegável que O Amigo do Rei tem dois problemas claros: de linguagem e de duração. Este primeiro ponto é mais perceptível por conta de uma série de encenações que se desenrolam no filme, sempre envolvendo deputados. Uma ou outra faz sentido, mas a maioria é sem graça e não acrescenta muito. Isso sem falar de uma cena de sexo que é desproposital. Não faz sentido nenhum estar ali e tira o foco do que é importante.

Há, também, errinhos pequenos, mas que incomodam. Como uma narração que surge em momentos aleatórios tentando explicar algumas situações. Além de legendas e escritos que surgem do nada, de vez em quando, para complementar algumas falas. É preciso se ater a uma estética e segui-la até o fim. Senão vira bagunça, como aqui.

O grande problema, porém, é a duração. Mais de 2h20 para um documentário não dá. D’Élia tenta aliviar com essas encenações, mas acaba surtindo um efeito completamente contrário. O cansaço bate, ainda mais que muitos depoimentos se repetem -- por mais importantes que sejam. O Amigo do Rei poderia ter, tranquilamente, 40 minutos a menos. É estranho como o editor do filme não tentou resolver isso. O problema é evidente e o cansaço domina grande parte da audiência. É tempo demais.

O conteúdo também acaba dispersando no final, ganhando alguns contornos bem distantes do tema central. É difícil manter a animação e a empolgação. E o pior: isso vai afastar completamente as pessoas que não estão tão interessadas na história. Bem o público que deveria se interessar, assistir, pensar, refletir. Difícil entender a estratégia. Afinal, Ser Tão Velho Cerrado, filme anterior do cineasta, peca em pouquíssimas coisas. É ágil, tem uma edição esperta e até sarcástica. Não cansa e faz refletir até o final.

Assim, O Amigo do Rei é um filme que reacende um debate necessário. Não é possível que esse assunto morra tão facilmente, tendo famílias que ainda dependem de soluções. Mas também não dá pra trazer um assunto tão importante numa duração de filme tão exagerada. Espanta quem mais precisa ver o filme e acaba atraindo pessoas muito interessadas na causa ambiental. Filme necessário, mas que traz um cansaço que é difícil de dissociar da produção. Uma pena. Poderia levar força de novo pro assunto.

 

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