Crítica: 'Os Roses' não consegue se atualizar e volta como comédia machista
- Matheus Mans

- 27 de ago.
- 2 min de leitura

É bastante surpreendente a falta de habilidade do cineasta Jay Roach (Entrando Numa Fria), assim como de seu roteirista, Tony McNamara, em atualizar a história de Os Roses: Até que a Morte os Separe, estreia desta quinta-feira, 28. O longa-metragem, baseado no livro de Warren Adler e já adaptado no clássico A Guerra dos Roses, continua com o mesmo erro: é machista.
A história é simples. Um casal (Olivia Colman e Benedict Cumberbatch) vive bem com dois filhos. Ele é um arquiteto de renome, ela tenta emplacar como cozinheira. Num dia de chuva, porém, tudo muda. Uma obra dele se torna um desastre histórico, enquanto o restaurante dela lota com pessoas se abrigando do toró. É aí que esses dois mundos entram em choque e se invertem. Ele perde o emprego e cai em desgraça. Ela vira uma espécie de "nova Julia Child".
É aí que entra o humor da situação. Os Roses mostra o amor desse casal se esvaindo -- ou, melhor, se transformando. Passam a se desprezar, a quase ter ódio na equação do dia a dia.
O humor de Roach, medalhão da comédia de Hollywood, funciona até a metade da produção. É divertido ver os dois personagens de Colman e Benedict -- que também são produtores -- entrando numa espécie de Guerra Fria. Os insultos indiretos divertem e nunca chegam em algum lugar desconfortável. Há várias piadas de duplo sentido que também são inofensivas, mas eficazes. A sala de cinema se encheu de gargalhadas pelo menos cinco vezes no início.
O problema é que Roach parece não ter atualiza a produção como deveria. Apesar do começo funcional, que muda algumas coisas do romance original, o restante da história fica atolado de machismo e até mesmo de insinuações de violência contra a mulher. Oras, a personagem de Colman nunca faz nada de errado: ela é trabalhadora, dedicada. Não tem tanto tempo para a família por ter muitas responsabilidades. Mas ela, ainda assim, é vilanizada de forma recorrente.
Pior: há momentos em que o personagem de Benedict destila ódio meio que sem razão e de forma desproporcional. Ela diz que não aguenta mais o jeito do marido e ele, de volta, diz que quer jogar algo pesado na cabeça dela enquanto está dormindo. Como isso pode ter graça?
O grande problema de Os Roses é não assumir um lado, é não mostrar que Benedict está bem errado aqui. O medo de adotar uma postura contamina o tom do filme, que soa ultrapassado e bastante equivocado em algumas de suas posturas. No final, o riso é diluído em uma trama sem graça, que acaba quase que se forma ultrajante. Rir do que acontece é desconfortável, até mesmo dá uma sensação de achar graça no que é errado. Uma pena. Elenco, roteiro e boa produção se perdem na deficiência de atualizar uma história presa no século passado.










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