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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Pertencer' é um dos filmes mais chatos do ano -- quiçá, da década


Nos últimos meses, estou numa empreitada pessoal para tentar ver a maior quantidade de filmes lançados na década de 2010. A ideia é, no final do ano, produzir um ranking honesto e coeso sobre as melhores produções do período. E, apesar dos mais de 500 filmes já conferidos neste ano, nenhum se aproxima da chatice do filme turco Pertencer.

Com duração de 73 minutos, mas que parece uma eternidade, o longa-metragem se debruça em um crime cometido por um casal: o assassinato da mãe da jovem moça. E, para falar sobre esse ato, Pertencer se divide em dois momentos. No primeiro, o jovem Onur (Çaglar Yalçinkaya) narra os acontecimentos. No outro, mostra o encontro dos dois.

E quando falo narra, é só narrado mesmo. Durante 30 minutos, o diretor Burak Cevik (Tuzdan Kaide) coloca seu protagonista falando, e falando, e falando. É uma descrição bem minuciosa dos acontecimentos que o levaram a cometer o crime. Na tela, enquanto isso, apenas imagens abstratas que remetem vagamente ao que ele está falando ali.

Na outra metade, quando a coisa parece que vai melhorar, Pertencer continua parado no mesmo lugar. Dá mais detalhes sobre a relação de Onur com Pelin (Eylül Su Sapan), mas não se justifica. Em momento algum este filme se faz necessário, se justifica. São apenas palavras, descrições sobre cenas, sem que nunca elas aconteçam de fato.

A única coisa boa que este filme promove é uma reflexão sobre o próprio cinema. Será que isso pode ser considerado Cinema? Com C maiúsculo? Eu, sinceramente, acho que não. Por mais que tenha uma fotografia interessante, Pertencer é um filme que parte do nada e termina em lugar algum. Começa e acaba sem dizer, exatamente, a que veio.

Na sessão do longa-metragem, a sala praticamente se esvaziou. Alguns dormiam, outros checavam o celular -- eu, particularmente, nem tive coragem de brigar com ninguém por conta disso. O filme é chato. É difícil conseguir prestar atenção, é difícil de decifrar o que Burak Cevik queria aqui. Se era criar um sonífero, acertou em cheio.

Assim, se não ficou claro, uma sugestão: passe longe de Pertencer. Quer aproveitar esses últimos dias de Mostra? Veja qualquer coisa. Até o péssimo Wasp Network, criticado aqui no Esquina. Mas não perca seu tempo com essa bobagem. Geralmente, prefiro não dizer "assista" ou "não assista". Mas, nesse caso, não dá pra escapar.

É um dos piores filmes que já vi na minha vida. Um dos piores do ano. Quiça, da década.

(*) Filme, infelizmente, visto na cobertura da 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

 

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