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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Praça Pública' acerta com conflito de classes, idades e origens


Talvez a França, hoje, represente o País com o maior número de conflitos sociais, seja por conta de classe, idade, gênero e origem. Afinal, foi lá que explodiu a crise dos refugiados e que acabou, de certa forma, causando uma grande comoção em toda a Europa. Praça Pública, novo filme da diretora Agnès Jaoui (Feito Gente Grande), acerta ao levar esses conflitos para as telas do cinema sem falar diretamente sobre eles. É uma comédia cheia de intenções, ainda que elas não transparecem à primeira vista.

A trama, afinal, tem uma premissa que pouco parece ter a ver com a temática. No centro da história está Castro (Jean-Pierre Bacri), um apresentador de TV que participa da inauguração da casa de sua produtora, Nathalie (Léa Drucker). E ali se encontram todos os tipos humanos: a garçonete Samantha (Sarah Suco), encantada com todas as celebridades ali presentes; Hélène (Jaoui), ex-esposa de Castro que tenta levar conteúdo político para o programa; a filha do casal (Nina Meurisse), que acabou de lançar um livro inspirado na família; além de youtubers, maridos, esposas e até um imigrante xenófobo.

A partir dessa miscelânea e do drama pessoal de Castro, que vê seu momento na TV chegando ao fim, Jaoui e Bacri -- que também era casados na vida real, curiosamente -- assinam um roteiro ágil e que tenta dar conta de todos os conflitos que nascem dali. É muita coisa pra dar conta pois, além dessas personagens ressaltadas acima, ainda há muito mais transitando durante os 98 minutos de projeção. Tem o casal de vizinhos que estão acostumados com a tranquilidade do campo, amigos de Castro que vem e que passam, empregados e por aí vai. É muita, muita coisa para pouco tempo no filme.

Assim, Praça Pública acerta em cheio quando se centra nos conflitos centrais, como o relacionamento de Castro com a ex-esposa; o desconforto que a filha planta com o livro; a trama tímida, mas intensa do imigrante xenófobo. São situações que, de certa forma, ganham muito mais corpo do que pequenas coisinhas que acontecem, que até podem ser divertidas, mas que acabam soterradas em meio a tanta história sendo contada. Jaoui foi mais feliz em O Gosto dos Outros, quando também comandou uma história de intrigas, conflitos, diferenças. Aqui, muita coisa interessante passa superficialmente.

O final, porém, traz algumas discussões à baila que intensificam a mensagem do filme e ajudam a interpretá-lo de maneira ainda mais catastrófica. Vale ressaltar, também, as boas atuações de Bacri (Assim é a Vida), Drucker (Custódia) e Miglen Mirtchev (Polina), que interpreta o tal imigrante xenófobo. Todos estão encaixados em seus papéis e ajudam, de certa forma, e elevar a trama -- principalmente na conclusão, quando os ânimos ficam à flor da pele e são exigidas atuações mais explosivas e intensas. Todos ali vão bem e conseguem acompanhar o ritmo da trama. É um bom encerramento.

Praça Pública é um filme que quer falar sobre muitas coisas e que, assim, acaba deixando assuntos importantes de fora, mal desenvolvidos ou com subtextos que não deveriam existir. Fica até um pouco cansativo acompanhar tantas histórias, tantas pequenas tramas, que muitas vezes não chegam em lugar algum. Mas, ainda assim, é louvável a intenção de Jaoui de colocar o tema dos conflitos sociais no centro das atenções e trazer algumas boas e necessárias críticas. Nesse momento, é um assunto que precisa sair das fronteiras da França e avançar pelo mundo. Inclusive no Brasil.

 

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