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Bárbara Zago

Crítica: 'The Resident' se prende aos clássicos do gênero


O fato de existir um subgênero dentro das séries de televisão que se refere à rotina de médicos em hospitais já chama atenção por si só. Não costumo acompanhar fielmente muitos seriados, mas com pouco esforço já consigo me lembrar de E.R., Grey's Anatomy, House e até a mais nova The Good Doctor. A rotina desafiadora, acompanhada de uma linguagem totalmente médica, exerce uma espécie de fascínio no público, e muito porque o próprio conceito de ser médico já implica numa admiração praticamente intrínseca do ser humano. A imagem do médico associada à ideia de salvar vidas ainda é bastante presente na cultura vigente, e The Resident não deixa dúvidas disso.

A mais nova série da FOX se passa no hospital Chaistain Park Memorial, onde Adam Bell, interpretado por Bruce Greenwood (Star Trek e Eu, Robô), é um aclamado cirurgião que tem cometido inúmeros erros -- exemplo disso se dá logo na primeira cena, em que um paciente morre durante uma cirurgia de apêndice, procedimento relativamente simples, por um erro médico. No entanto, Bell constantemente é acobertado por seu colegas por exercer extrema influência dentro da comunidade médica, já indicando que a questão da negligência profissional será tratada.

Abaixo dele, está Conrad Hawkins (Matt Czuchry), residente do hospital. Sua personalidade parece imitar a clássica atuação de Hugh Laurie em House: arrogante, inteligente e com bom coração. Ao seu lado, a enfermeira Nic (Emily VanCamp) o auxilia para supervisionar Devon Pravesh (Manish Dayal), um recém formado da Faculdade de Medicina de Harvard. A hierarquia é bastante semelhante à de Suits, porém dentro do contexto médico.

Os episódios seguem uma estrutura de começo, meio e fim. A equipe médica acompanha diferentes casos por episódio, em que alguns se alongam e têm uma maior atenção, enquanto outros se limitam ao superficial. Mesmo assim, The Resident mantém um bom ritmo; consegue dosar o drama com pontos de humor que tornam a série mais leve. Os primeiros episódios são capazes de prender a atenção do espectador sem muito esforço. O problema se dá quando você faz parte de um público que não enxerga o médico como um semideus; a série perde bastante sua validade ao questionar "Se fulana é tão inteligente, por que ela é enfermeira, e não médica?", como se uma opção profissional fosse inferior à outra. Ou até mesmo "Se medicina fosse fácil, todos seriam médicos".

The Resident ainda se prende muito aos clássicos do gênero. Contudo, explora uma faceta perigosa: a medicina como um negócio comercial -- e isso talvez seja seu grande diferencial. Durante os episódios, constantemente o espectador se vê diante de dilemas éticos em relação à vida de um paciente, o que proporciona uma reflexão necessária, independente do campo de atuação. A ideia de quebrar regras preestabelecidas para agir da melhor maneira possível, em pró da vida, está presente o tempo todo. A presença de um vilão e um mocinho na série facilita bastante na hora de definir um lado.

Talvez o grande problema da mais nova série da FOX seja o engrandecimento do médico, mais do que o necessário para o gênero. A medicina não salva uma vida, apenas a prolonga, ainda que essa ideia não seja tão bem aceita por muitos. Existe, sim, a importância de reconhecer a profissão, e até mesmo compreender os desafios pelos quais médicos de hospitais passam; mas não significa que uma carreira é mais importante, ou até mais necessária que outra. Deixando isso de lado, The Resident consegue atrair o público através de dilemas morais, risadas e momentos de extrema tensão e angústia.

 

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