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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Cadáver' é mais um terror que se perde em suas ambições

Cadáver, novo filme de terror que chega aos cinemas nesta quinta-feira, 29, começa surpreendentemente bem. Megan Reed (Shay Mitchell) é uma policial reformada que acaba encontrando uma nova oportunidade de emprego no necrotério de um grande hospital de sua cidade como assistente noturna de admissão de cadáveres. A coisa vai bem até que ela recebe um corpo em estado de putrefação, todo retorcido e com marcas, pertencente à jovem Hannah Grace (Kirby Johnson), possuída por um demônio. Aí começa o pesadelo da ex-policial, que passa a ser atormentada pelo tal cadáver.

Dirigida pelo holandês Diederik Van Rooijen (responsável pelo ótimo suspense Daylight), a produção começa com o pé direito, repleta de suspense psicológico e insinuações de um horror que não acontece. É como os grandes filmes de horror recentes, como Hereditário ou A Bruxa. É um terror que está ali presente, mas que não se concretiza. É uma jogada de direção e de roteiro interessante nesse caso, que brinca com as possibilidades de um possessão e com os efeitos da mente de uma protagonista que não está em seu melhor estado mental. Havia, naquele começo, oportunidades incríveis a seguir, como uma alegoria interessante com a solidão ou o medo do vazio.

No entanto, o roteiro de Brian Sieve (de Teen Wolf e Pânico: A Série de TV) vai pelo caminho mais óbvio, seguido pelo similar A Autópsia, e não consegue trazer elementos interessantes, apesar da história ambiciosa. O horror, antes restrito às brincadeiras com gavetas de necrotério e com um interessante jogo de luzes, parecido com o do bom Quando as Luzes se Apagam, vira algo explícito e sem grande impacto. O CGI é tão precário e tão pouco bem finalizado que o medo, aos poucos, se torna piada. Difícil ver uma criatura realmente demoníaca na figura interpretada pela mediana Kirby Johnson.

Talvez, neste caso, tivesse sido melhor usar a estratégia que Spielberg adotou em Tubarão, que decidiu esconder o monstro marinho em grande parte do filme por conta dos problemas nos efeitos especiais. A sugestão, o medo nas pequenas coisas e, principalmente, a aposta numa trama psicológica. Nada contra o terror visual. Mas é preciso ver qual o limite de uma produção e, principalmente, o que é benéfico ou não para uma história. O grande público, sem dúvidas, vai mais rir do que se assustar com as cenas da possessão andando no hospital ou matando pessoas. É fraco, pouco crível.

É curioso, porém, como o roteiro ainda tenta apostar numa brincadeira de terror psicológico até os últimos instantes, quando essa estratégia inaugural já foi por água abaixo. Novamente, o diretor e o roteirista tentam se afastar de A Autópsia e chegar mais perto de O Babadook, por exemplo. Só que, ao final, tudo já virou um misto de horror visual com risadas e cenas dirigidas de maneira vergonhosa por Van Rooijen (uma envolvendo um forno de cremação é absurdamente mal dirigida). E aí essa tentativa de trazer aspectos psicológicos pra trama de nada serve, não faz sentido.

Quem consegue segurar isso tudo e dar certa coesão é a ótima Shay Mitchell (Pretty Little Liars), que se mostra verdadeiramente assustada com a história e embarca em uma atuação na medida. Ela, sem dúvidas, carrega o filme nas costas, já que os coadjuvantes Grey Damon, Nick Thune, Max McNamara, Louis Herthum e Stana Katic não possuem grandes habilidades interpretativas ou, então, são podados por roteiro e direção. É Shay Mitchell que ajuda a audiência a entrar na história, se assustar com o começo e se divertir. Pena que depois a direção e a história estragam tudo de vez.

Assim, Cadáver é um filme com muito potencial, mas que acaba se afogando em suas próprias ambições. É um meio termo entre horror psicológico e horror visual que não vai pra frente e não encontra seu próprio tom. Se tivesse investido em um ou outro desde o começo, talvez o resultado tivesse sido mais interessante. No entanto, neste caso, é apenas mais um filme para adolescentes se divertirem, em grupos, no cinema e sem muito compromisso com a história que está sendo contada. De resto, melhor partir para outros filmes, outros lançamentos, outros horrores. Esse, infelizmente, não funcionou.

 

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