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Foto do escritorMatheus Mans

Resenha: 'Oppenheimer' é biografia densa e (quase) completa


Geralmente, nas minhas leituras, não levo mais de quatro ou cinco dias -- a não ser colossos como Game of Thrones ou Graça Infinita, por exemplo, um livro que me consumiu quase 20 dias. A biografia Oppenheimer, que inspirou o livro de Christopher Nolan e que conta a história do físico norte-americano, não foi uma leitura rápida, tampouco simples: foram exatos 10 dias para completar a leitura. O motivo? É um texto denso, apesar de simples, e cheio de camadas.


Escrito a quatro mãos por Kai Bird e Martin J. Sherwin, o livro tem o propósito de toda biografia: contar a história de uma vida. Aqui, a dupla de autores tenta dar conta dos anos iniciais, formação e, principalmente, o trabalho de J. Robert Oppenheimer no desenvolvimento das bombas atômicas de destruíram Hiroshima e Nagasaki. Ele é o foco (não a guerra), levando em conta toda sua personalidade complexa e os desafios que surgem ao longo de seu caminho.


Para isso, Bird e Sherwin dão um mergulho profundo, em que buscam trazer todas as visões que cercam a história e a carreira de Oppenheimer. É, assim, um livro denso -- não pela linguagem, que é sem firulas e não traz termos complexos da ciência, mas por conta de todas as facetas de seu biografado. A cada passo de Oppie, o livro consegue trazer um punhado de visões de pessoas ao seu redor se aquilo foi correto, se foi um tropeço ou o maior erro da vida.


É interessante como o livro também consegue, dessa forma, tirar o corpo fora (em um bom sentido) no julgamento de Oppenheimer. Em momento algum os dois biógrafos apresentam a opinião pessoal deles sobre o legado do físico -- eles deixam que a História molde a jornada de Oppie. Além disso, com tantas visões sobre um mesmo fato, permite que nós, leitores, absorvamos todos os meandros da criação da bomba atômica, da perseguição contra ele e afins.


Ou seja: não é um livro que você simplesmente vai virando uma página atrás da outra. Ele exige cuidado para que nós formemos nossa opinião crítica sobre o biografado. Não é um livro apenas de absorção, mas de troca quase constante. É algo que, de alguma forma, surge também na cinebiografia dirigida por Christopher Nolan, que joga para a plateia a emoção do caos.


Infelizmente, só não posso me dar ao luxo de dizer que o livro é completo. Como sinalizei já na brincadeira no título, é quase completo. Quase. Afinal, por motivos de custo, a editora Intrínseca resolveu tirar as notas da edição impressa e criou um site para que os leitores (que pagaram R$ 90 na obra) acessem essa parte fundamental. Para alguns pode parecer luxo ou besteira, mas é como se a editora (e os autores, de acordo com isso) arrancassem uma parte da obra.


É um absurdo completo, que tira a magia do livro -- inclusive, gosto de ter obras dessa envergadura na estante justamente para consulta futura; será que realmente um site serve para esse propósito? Uma decisão muito equivocada. Ainda assim, Oppenheimer é o que há de mais denso e profundo sobre o criador da bomba atômica: um retrato que abraça todas as facetas de um dos personagens mais complexos e cativantes do século XX. Vale demais a leitura.

 

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