Em um primeiro momento, O Fascismo Eterno impressiona por suas diminutas proporções. Editado pelo Grupo Editorial Record, a obra de Umberto Eco conta com apenas 64 páginas e um formato próximo ao pocket book. Mas o conteúdo de suas frases, por mais clichê que seja essa colocação, é imenso, forte, gigantesco. Afinal, o texto do escritor e filósofo italiano, datado de 1995, continua atual, necessário e de extrema importância para a compreensão completa e irrestrita da política e sociedade.
Como é explicado pelo próprio Eco no início do livro, O Fascismo Eterno foi uma conferência, pronunciada em inglês, que ocorreu nos EUA em 1995. Só algum tempo depois que acabou virando texto, na The New York Review of Books, e dois anos depois se tornou a produção literária mais celebrada de Cinco Escritos Morais. Mas, afinal, qual o motivo de transformar um texto, que era inicialmente um discurso proferido por Eco, num livro único? Por qual motivo reeditá-lo agora, dando tanta ênfase na temática?
As perguntas para essas respostas, que devem surgir de maneira natural quando se entra em contato com o livro pela primeira vez, vão sendo rápida e satisfatoriamente respondidas ao longo dessas seis dezenas de páginas. O texto de Eco, que morreu em 2016, continua assustadoramente atual. Afinal, ele traça alguns paralelos e coincidências ao redor de fascismos que ocorrem através do mundo -- e o porquê de movimentos totalitários serem chamados assim. É praticamente uma aula de Eco.
Assim, além de colocar alguns aspectos históricos e linguísticos, ele começa a mostrar as bases do fascismo e o que há em comum entre eventos tão díspares e, ao mesmo tempo, tão próximos. O mais assustador, porém, é como o texto pode ser facilmente aplicado à realidade brasileira -- algumas expressões, como "as universidades são um ninho de comunistas", parecem saídas do noticiário recente. Há identificação e, com isso, a mostra de como O Fascismo Eterno e a obra de Eco continuam necessárias.
Afinal, por mais que existam opiniões diferentes e contraditórias quanto ao cenário político brasileiro de hoje, é preciso observar movimentos políticos e absorver o ensinamento de estudiosos do setor. São livros e textos assim que abrem mentes, criam observações analíticas mais argutas e afiadas. E, afinal, se o leitor não concordar com o que Eco exemplifica e não compreender como parte integrante da sociedade política brasileira de hoje, deverá desenvolver um raciocínio ao redor do tema imposto no livro.
O Fascismo Eterno, mesmo 23 anos depois de pronunciado pela primeira vez, continua com uma discussão atual e mostra como o pensamento de Eco sempre foi sensível ao que acontecia ao seu redor. E, infelizmente, mostra que há um ciclo por trás dos movimentos totalitários ou ur-fascistas. Eles vêm e voltam. Sempre. Por isso, é importante revisitar a leitura sempre e deixar um espaço na estante para que esse texto de Eco esteja sempre à mão. É sempre importante entender o que acontece ao redor. E nada melhor do que revisitar a literatura já feita numa análise precisa do passado.
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