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  • Foto do escritorMatheus Mans

'O Aprendiz' quase põe tudo a perder na final, mas tem saldo positivo


Uma boa surpresa na televisão brasileira, em 2019, foi o retorno de O Aprendiz. Depois de desistir de concorrer à presidência, Roberto Justus pegou o formato, colocou debaixo do braço e foi fazer seu tradicional programa na concorrência. Assim, após 15 anos no ar pela Record, o empresário e apresentador decidiu sediar o seu reality show na Band. E numa versão pouco convencional: ao invés de universitários ou pessoas buscando um espaço no mercado de trabalho, apenas influenciadores digitais, youtubers e afins.

E, surpreendentemente, o formato deu certo. Finalizado com a vitória de Gabriel Gasparini nesta segunda, 1, o programa acertou na criação de algumas provas, na boa inserção de polêmicas e na escolha dos participantes, que variavam de influencers extremamente conhecidos (PC Siqueira, Alice Salazar, Carlos Santana) à alguns que ainda "engatinhavam" nos números perto de seus concorrentes (o próprio Gaspa, Alberto Solon, Julia Mendonça, Ru Baricelli). Ou seja: havia uma boa e interessante variação, que ajudou a dar um tempero diferenciado ao programa em si.

Afinal, há uma natural briga de egos. Influenciadores digitais estão com um pé no mundo das celebridades, mas ainda não estão totalmente lá. Durante o programa, isso os impeliu, às vezes, a criar polêmicas, buscar aparecer mais do que o outro e até passar por cima. Alguns dos participantes, claro, não entraram nessa e só tocaram seu barquinho. Outros, como Sandra Matarazzo (ex-MasterChef), Montalvão e, principalmente, Lucas Estavam, logo trataram de colocar as manguinhas de fora por ali.

Mas deixando isso de lado, O Aprendiz teve uma boa consistência nas provas e na maneira que o programa foi conduzido. Justus, nas maiorias das demissões, tratou de tomar decisões justas -- menos nas saídas de Xan e PC, que eram bem melhores do que seus pares. Além disso, a maioria das provas agradou. Claro, algumas beiraram o ridículo, como a "caça ao tesouro" da Vivo ou, ainda, a chatíssima prova de venda de carros da Hyundai. Parece que patrocínio acabou por influenciar o conteúdo da atração. Mas provas como a do hotdog e a de venda de objetos nas ruas marcaram bem mais.

Na final, porém, Justus e sua produção quase colocaram tudo a perder. Inicialmente, o programa fez uma boa e inteligente prova, na qual os três participantes finalistas teriam que criar uma solução que ajudasse a vida das pessoas em São Paulo. Gaspa criou um sistema de coleta seletiva para restaurantes; Erasmo arrecadou R$ 11 milhões e tratou de começar um programa de inserção de professores de educação física num mercado de trabalho específico; e Gabi Lopes criou uma espécie de guia de boas maneiras. Pois é.

Obviamente, o projeto de Gabi foi bem abaixo do que os outros dois fizeram. Não havia concretude, pouco havia sido realizado. Muito ficara no mundo das ideias. Por isso, claramente ela seria a eliminada da noite, numa avaliação direta da prova, para que o vencedor fosse decidido numa sala de reunião apenas entre duas pessoas -- no caso, Gaspa e Erasmo. No entanto, apesar de alardear essa demissão ao longo de todo o programa, Justus decidiu tomar o caminho mais injusto. Desistiu da demissão de Gabi, de última hora, e levou o trio para a sala de reuniões final. Parecia protecionismo barato.

Felizmente, porém, Justus não seguiu adiante na proteção e deu a vitória à Gaspa, que sempre foi consistente no programa e apresentava uma empolgação genuína. Erasmo só melhorou a partir da metade do programa e Gabi é bem mais instável do que Justus queria crer -- em várias provas, claramente, ela mais atrapalhou do que ajudou, ao passar por cima de alguns participantes. O Aprendiz, assim, terminou numa nota positiva, apesar de vislumbrar o fundo do poço com essa decisão equivocada de Justus.

A baixa de audiência, que dificilmente passava do 1 ponto em São Paulo, não é justificativa para condenar o programa ao fracasso. Já faz algum tempo que Ibope não é mais a medida final de alguma coisa. O Aprendiz fez barulho nas redes, mexeu com emoções, fez sucesso em plataformas digitais. Escolheu bem seus participantes, soube trazer polêmicas. Apresentou ao mundo Zé Roberto Marques e Jéssica, personagens que, por bem ou por mal, entraram para o imaginário do público. E divertiram, claro.

A torcida é para que a Band consiga manter o formato e, assim, desenvolvê-lo de maneiras mais interessantes. Não dá para continuar apenas apostando todas as fichas no MasterChef -- que, hora ou outra, vai ter suas possibilidades esgotadas. O Aprendiz pode ser a salvação dessa crise da Band. Basta saber usar o programa, escolher um melhor horário e continuar a investir em todas essas suas possibilidades.

 

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