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  • Foto do escritorMatheus Mans

Claustrofóbico, 'Biofobia' perturba o leitor em todas suas páginas


“Entraram na casa e ele viu a mãe por todos os lados. Os restos da mãe. Os livros. O pêndulo do relógio batendo. Era como uma prova viva de que ela existia. Não mais viva, insistia por todos os lados.”

Biofobia é um daqueles romances claustrofóbicos e desesperadores que perturbam o leitor durante todas as suas páginas, deixando-o nervoso ou até mesmo angustiado. Porém, com a ótima escrita de Santiago Nazarian, ele causa um sentimento dúbio ao mergulhar o leitor no enredo, fazendo com que se sinta totalmente preso na ótima história.

O livro narra um trecho doloroso da vida de André, um roqueiro de meia-idade que acaba de perder a mãe, que se suicidou. Isolado na casa de campo que a mãe construiu, André tenta se reencontrar, enfrentando antigos medos e o mato que cresce sem parar do lado de fora da casa e atormentando frequentemente.

A relação do personagem com a natureza que envolve a casa é delicada e, ao mesmo tempo, ensurdecedora. Como uma orquestra num crescendo, o medo do personagem com o mato do quintal de casa vai tomando forma e se mostrando mais perigoso. Tudo isso, regado com rompantes filosóficos interessantes e um mergulho interior de André que aproxima um pouco o leitor do personagem.

Digo que aproxima um pouco pelo fato do personagem não ser facilmente assimilado pelo leitor. Ele acaba ficando muito distante e, dificilmente, alguém irá se assimilar com ele ou sentir pena de sua situação em algum momento. Porém, mesmo com esse ponto fraco, o livro continua com um ritmo intenso, não deixando o leitor se distanciar do restante da narrativa, que acaba fazendo o papel de elo entre leitor e enredo.

Apesar do personagem André deixar a desejar, os secundários acabam chamando a atenção. A ex-namorada e a irmã, apesar de pouco exploradas, chamam a atenção nos momentos que aparecem. E o amigo, com a estranha namorada, deixam a história empolgante e interessante durante a curta aparição.

Além do ótimo enredo durante o livro inteiro, o final dá continuidade e é surpreendente, sendo muito bem escrito e pensado. Talvez por ter sido envolvido massivamente pela leitura, não abri espaço para imaginar que aquilo pudesse acontecer.

Enfim, Biofobia apresenta uma narrativa filosófica, introspectiva e muito interessante. Pode até não agradar a todos os gostos. Porém, pode agradar muitos aos leitores que possuem um gosto direcionado ao livro de tal estilo. Além disso, coloca Santiago Nazarian, definitivamente, na lista de grandes jovens escritores brasileiros, ao lado de nomes como Raphael Montes e Daniel Galera.

 

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