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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: '10 segundos para vencer' arrepia, mas derrapa em excessos


Ainda que o futebol seja o esporte mais popular do mundo, é o boxe que tem seu espaço garantido nas telas do cinema. Afinal, é extremamente visual e muito fácil de torcer para duas pessoas se digladiando como numa coreografia de balé ou coisa do tipo. Rocky, Touro Indomável, Menina de Ouro e O Lutador são apenas alguns dos títulos que acabaram entrando de vez para a história da sétima arte com histórias viscerais e emocionantes.

No Brasil, porém, o cinema ainda engatinha quando o assunto é boxe. O primeiro grande destaque foi em 2016, quando o estiloso Mais Forte que o Mundo, sobre José Aldo, chamou a atenção de público e crítica. Depois, em 2018, o bom documentário A Luta do Século contou um pouco mais da história de Luciano Torres e Reginaldo "Holyfield". O ponto alto do subgênero, porém, vem com 10 Segundos Para Vencer, sobre o campeão Éder Jofre.

Dirigido por José Alvarenga Jr. (Divã), o longa-metragem se debruça sobre a infância e início da vida adulta de Jofre (Daniel de Oliveira), um rapaz de família pobre de São Paulo que vê o boxe como principal opção para agradar o pai, o linha-dura Kid Jofre (Osmar Prado), e ajudar nos rendimentos da casa após o fracasso do tio Zumbanão (Samuel Toledo) no esporte. Ainda assim, porém, ele vai ter que passar por cima de seu sonho de se tornar desenhista profissional e dos anseios da esposa Cida (Keli Freitas).

Assim como a maioria das cinebiografias, há um excesso de informações em 10 Segundos Para Vencer. Ainda que a infância tome pouco tempo de tela, o período acaba por sobrecarregar todo o restante. A forma extremamente linear e formal que é retratada a carreira de Jofre também tira um pouco de brilho do longa-metragem. Isso sem falar de alguns diálogos artificiais, como exaltações ao boxe ou emocionais em demasia.

Mas os aspectos positivos também se sobressaem. O elenco está afinado: Daniel de Oliveira volta a repetir uma ótima performance após Aos Teus Olhos e apenas reafirma o bom ator que é. Em alguns momentos, dava pra enxergar Jofre ali na tela. Osmar Prado (O Clone), como sempre, está incrível. Bem posicionado, sotaque sem exageros, emoção na medida certo. Baita ator. Mas quem rouba a cena é Samuel Toledo (Polícia Federal). Um ator do teatro que mostra o grande potencial que tem, também, na tela grande.

José Alvarenga Jr., mais acostumado com as comédias, também se sai bem. Ainda que sua direção tenha alguns exageros, ele sabe comandar cenas de boxe -- tal qual Ryan Coogler em Creed, coloca o espectador dentro do ringue e da ação. Dá vontade de ver o cineasta em outros filmes fora da zona de conforto e criando de maneira tão leve e solta. E ele faz o mais difícil: causa arrepios em algumas cenas de emoção genuína.

10 Segundos Para Vencer é uma cinebiografia com excessos -- seja de tempo ou da história, propriamente dita -- e com alguns diálogos artificiais demais. No entanto, tem emoção no seu cerne: faz arrepiar, é bem filmado, bem interpretado. É, de fato, uma homenagem que o Brasil estava devendo para Éder Jofre. A torcida, agora, é que venham mais filmes sobre personalidades que, de fato, estão caindo no esquecimento.

 

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