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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'A Garota com a Pulseira' é filme bom, mas esquecível


A primeira sequência de A Garota com a Pulseira é interessantíssima. Uma câmera estática filme, sem cortes, uma família passando um dia na praia. Mãe, pai. Filho, filha. Inesperadamente, porém, a polícia chega. Neste momento, a garota veste sua roupa e sai de cena. É o começo de uma intensa jornada judicial na qual Lise (Mélissa Guers), de apenas 17 anos, precisará se provar inocente frente ao assassinato de sua amiga.

Dirigido e roteirizado por Stéphane Demoustier, este longa-metragem francês acompanha a história dessa garota se passando quase que inteiramente no interior de um tribunal. Há poucas cenas fora desse cenário, deixando que as sequências interessantes se desenrolem na dramatização natural desse ambiente. A tensão é evidente, em todos os momentos, e fica clara a dinâmica daquele lugar em questão.

Não é melhor do que 12 Homens e uma Sentença e As Duas Faces de um Crime, por exemplo, mas consegue se manter pau a pau com longas jurídicos focados na ação.

Demoustier, porém, resolve focar seu filme principalmente em dois pilares: a interpretação da protagonista Mélissa Guers e questões de gênero. Ambos os temas se sustentam e acabam por gerar um embate interessante. A personagem Lise é forte, independente e possui convicções bem claras. Isso entra em rota de colisão com o que diz e pensa a promotora do caso, brilhantemente interpretada por Anaïs Demoustier.

Interessante notar, assim, como algumas questões geminais em assuntos jurídicos se enfrentam, se confrontam, se debatem. O público, de maneira natural, é chamado para entrar na discussão. E, assim, A Garota com a Pulseira ganha força e ímpeto cênico. Ainda mais pelo fato do cineasta nunca revelar, de fato, o que aconteceu na cena do crime. Será que Lise é a assassina? As dúvidas vêm e vão. Assim como as certezas.

Mas nem tudo são flores. O longa-metragem cresce em força durante toda a execução, mas termina de forma esquecível. Faltou, para Demoustier, uma ousadia, uma criatividade na fórmula. Não há um final grandioso, uma cena que mexa, de fato, com as emoções do espectador. Pequenos grandes momentos ficam espalhados por todo o filme, sem nenhum capturar a atenção de maneira arrebatadora. Falta a grande cena.

Ainda assim, vale ressaltar que é um filme interessante. As atuações são boas, o roteiro é bem amarrado e a questão do gênero é muito bem realizada na trama por conta da personagem de Anaïs Demoustier. Isso, de certa forma, joga a qualidade pra cima. Mas não é o bastante, ainda, para torná-lo memorável. É só uma boa experiência fílmica.

(*) Filme visto durante cobertura especial da 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

 

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