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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Aquaman' é filme grandioso -- até mais do que deveria


Não há como negar. Aquaman, ao contrário das perspectivas, é um filme grandioso. Sob a incumbência de James Wan, que deu vida às franquias Invocação do Mal, Jogos Mortais e Sobrenatural, o longa-metragem consegue tirar o Rei dos Mares da anedota e partir para uma jornada épica. No entanto, apesar das boas intenções da Warner, a DC volta a errar no tom e a tal grandiosidade passa dos limites. Fica exagerada, cansativa e sem propósito. Mas vale ressaltar: parece que estão encontrando o caminho correto.

A trama mostra a origem de Arthur Curry (Jason Momoa), o Aquaman. Filho de homem comum responsável por um farol (Temuera Morrison) e de Atlanna (Nicole Kidman), rainha de Atlântida, ele precisa lidar com a dupla origem e compreender de que lado vai ficar na guerra entre mar e terra. A coisa se intensifica, porém, quando o meio-irmão Orm (Patrick Wilson) resolve ir atrás de Arthur para aniquilá-lo. Como ajuda, ele terá só a inteligência de Mera (Amber Heard) e a experiência de Vulko (Willem Dafoe).

Wan, logo de cara, já mostra que não tem apenas o dom de assustar. Em cerca de cinco minutos de filme, várias emoções pipocam na tela. Há o amor, a ternura, o divertimento. Uma cena de ação envolvendo a personagem de Nicole Kidman (O Sacrifício do Cervo Sagrado) é especialmente gratificante, chegando a arrepiar. A câmera de Wan, que faz círculos ao redor da atriz enquanto ela luta com soldados submarinos, sai da óbvia câmera tremida e cria algo espetacular. O cineasta é, sem dúvidas, ponto fora da curva.

A grande questão é que a essência dessa cena inicial com Kidman é a simplicidade. Por mais bem coreografada, bem dirigida e cheia de efeitos especiais que ela tenha, tudo flui de maneira natural na tela. A ação transcorre bem, o ritmo é imposto, a história vai se revelando. Há sensibilidade ali. É um diferencial em filmes de heróis, que geralmente prezam por algo gigantesco e, dessa maneira, se tornam despropositais. Parecia que esse seria o caminho adotado por Wan para a história de Aquaman. Mas não é o caso.

Quando Momoa (Game of Thrones) surge na tela, tudo fica agigantado e o filme começa a mostrar seu lado blockbuster. Os efeitos especiais lotam a cena, as lutas protagonizadas pelo Aquaman são mais exageradas e plásticas e as tramas vão se empilhando. Não basta apenas colocar a guerra entre mar e terra como centro das atenções. Os roteiristas David Leslie Johnson-McGoldrick (A Órfã) e Will Beall (Caça aos Gângsters) decidem inflar um pouco mais. Tem romance, tem conflito familiar, tem um outro vilão, tem flashbacks, tem explosões -- até no fundo do mar -- e saltos no Saara.

O filme, como dito, se torna uma jornada épica. Um pouco diferente do que Mulher-Maravilha fez, que se detém mais na origem da personagem principal, Aquaman opta por colocar esse "início de tudo" de uma maneira mais apressada e focar na ação, nos efeitos especiais, na trajetória de Arthur Curry. Lembra do terceiro ato do filme da princesa das amazonas? Efeitos especiais marcados na tela, algumas cenas bregas, a trama que se atropela? É um pouco da essência geral de Aquaman por seus três atos.

Ilustração; Mariana Sena/Esquina da Cultura

Há também piadas que não encaixam bem e cenas bizarras -- como uma câmera lenta de Momoa no início, quase que saída de Baywatch, ou o uso de vinhos numa luta aquática ou, ainda, um polvo tocando tambores. Mas isso acaba se dissipando por conta do elenco com vontade de fazer aquilo tudo funcionar. Momoa é canastrão e assim continua em Aquaman. Funciona no personagem. Heard (Machete Mata) está apaixonante em cena, apesar de Wan ter a delicadeza de uma baleia para dirigir cenas de romance. Kidman, Dafoe (Homem-Aranha) e Dolph Lundgren (Creed II) estão bem, apesar do pouco tempo em cena. Só Wilson (Invocação do Mal) que exagera na atuação.

Vale destacar, também, a genialidade de Wan em algumas recriações do Oceano. Para falar da Fossa, onde vivem seres estranhos e assustadores, o cineasta se volta às origens e dá medo. Uma cena pode até fazer pular da cadeira. Há certa beleza visual natural nessa mesma sequência, quando um sinalizado debaixo d'água (pois é!) cria uma poesia visual inesperada. Ponto para Don Burgess, diretor de fotografia. Destaque também para a inesperada trilha de Rupert Gregson-Williams, que cria emoções certas, apesar de alguns exageros monotemáticos. Agrada, mas pode afugentar alguns.

Grande parte do público deve se satisfazer com o pouco desenvolvimento de personagens, com os efeitos especiais a la Playstation e as cenas de luta -- que são dignas de prêmios por conta da recriação submarina, apesar do exagero. Afinal, são fãs e pessoas que anseiam apenas em ver duas horas e meia dessa jornada do Rei dos Mares se revelando na tela. Há talento na direção de Wan, há um elenco empenhado, há efeitos interessantes. Mas se deixar o anseio por ver o personagem nas telas, fica uma trama inflada, brega e que poderia ser mais memorável. Quem sabe, numa próxima, seja uma nova obra-prima da DC. Por enquanto, é um filme recheado de boas intenções.

 

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